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Os 40 anos da Passarelado Samba Darcy Ribeiro

Editorial - Dulce Tupy

Parece que foi ontem, eu acompanhando o então governador Leonel Brizola e o cacique Juruna na pista do Sambódromo que estava sendo inaugurado naquele dia. A imprensa nacional correndo atrás da notícia, verificando os detalhes da construção daquele conjunto arquitetônico criado pelo gênio da arquitetura moderna: Oscar Niemeyer. Popularmente conhecida como Sambódromo, o nome carinhoso que o povo deu a esse monumento que acabou com o caríssimo “constrói e destrói” das arquibancadas, que ocorria todo ano no carnaval, no desfile das escolas de samba; a nossa Passarela do Samba foi copiada depois em todo o Brasil, começando por São Paulo.

Conta-se que Brizola na época não queria construir, mas um argumento do também genial professor e então vice-governador Darcy Ribeiro, foi o suficiente para fazê-lo mudar de ideia. Darcy prometeu e cumpriu, colocando no projeto escolas em baixo das gigantescas arquibancas, um projeto que virou realidade e funciona até hoje, beneficiando milhares de estudantes. Afinal, a educação era o carro-chefe governamental de Brizola que acabou com o anafalbetismo no Rio Grande do Sul, quando foi governador, antes de ser exilado pela famigerada Ditadura Civil e Militar que assolou o país de 1964 a 1985.

ESCOLAS DE VIDA

No Rio de Janeiro, assessorado por Darcy Ribeiro e Oscar Niemeyer, Brizola criou os CIEPs que estão em pé até hoje, mas com o programa educacional de ensino em dois turnos, entre outras inovações, totalmente destruído pelos governos que vieram depois dele. Porém as construções vingaram, os CIEPs continuam existindo, assim como o Samódromo do Rio, com suas linhas elegantes, batizado como Passarela do Samba Darcy Ribeiro, em homenagem a esse professor, antropólogo, escritor visionário que, após o exílio, retornou ao Brasil para ser consagrado como um dos maiores intelectuais do país, da América Latica e da Europa.

Foi com essas ideias na cabeça que participei da inauguração do Sambódromo, emocionada, porque fui criada na Tijuca, um bairro rodeado de escolas de samba, e estava fazendo há anos uma pesquisa sobre o samba que resultou no meu livro “Carnavais de Guerra, o nacionalismo no samba”, hoje esgotado, mas disponibilizado de graça no site da Tupy Comunicações: tupycomunica.com. O samba era e é para mim uma grande escola de vida! Em casa, aprendi a sambar com uma cozinheira que trabalhava cantando samba. A lavadeira cantava samba também e eu dormia toda noite ouvindo os batuques noturnos do candomblé ou do samba que entravam pela janela do meu quarto.

DA TIJUCA À PASSARELA

No carnaval, meu pai nos levava pra ver o desfile do Salgueiro na Praça Sãens Pena, onde vi – e nunca esqueci – a montagem das alas, dos carros alegóricos e das fantasias deslumbrantes como a da Chica da Silva. Nessa época, as escolas faziam questão de desfilar nos bairros para ganhar adeptos, fãs e torcedores. Eu era uma cria do Salgueiro, escola para a qual torço até hoje! Mais tarde, depois de publicado meu livro sobre samba, em 1985, fui convidada pela LIESA (Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro) para ser uma das julgadoras do Desfile Especial das escolas de samba, na avenida Marquês de Sapucaí. Claro que aceitei e, a partir daí, fui julgadora inúmeras vezes, anos seguidos, mesmo tendo me mudado para Saquarema, bem distante do centro do Rio…

Ah! Os 40 anos da Passarela do Samba! Quantas lembranças, saudade mesmo, verdadeiro banzo! Ver a cantora guerreira Clara Nunes sambando e chorando de emoção na sua Portela. Assistir o desfile magnífico da Vila Isabel cantando “Valeu Zumbi”, no enredo em homenagem ao Quilombo de Palmares. E o Ita, do Salgueiro? Eu, meu marido e toda a Sapucaí em coro cantando o lindo samba que deu 10 pra escola elevando-a ao primeiro lugar: “10, nota 10”! Na inauguração do Sambódromo, a Mangueira já tinha dado show, retornando da Praça da Apoteose arrastando multidão… Agora era a consagração das arquibancadas, e eu já sonhando em encerrar meu ciclo na avenida, por questões de saúde e da distância da cidade onde vivo. Aqui, em Saquarema, me reservo o direito e o prazer de assistir pela TV os dois dias de desfile das escolas de samba. Mas sempre me lembrando dos primeiros desfiles que vivi, ainda criança.

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