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A vida é intendivél?

Cultura é Notícia - Beatriz Dutra

O Século XXI trouxe, como novidade, a INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL (IA). As primeiras reações foram de assombro, perplexidade e insegurança. Aonde chegaremos? Veio ela para melhorar a vida da humanidade? Para torná-la mais feliz? São perguntas ainda sem respostas.

O renomado neuro-cirurgião PAULO NIEMAYER FILHO, ocupante da cadeira 12 da ABL, em seu texto “A criatividade e o cérebro”, publicado na Revista Brasileira da ABL, nº 110, assegurou: “A inteligência artificial, com sua lógica algorítmica, está longe de ser capaz de reproduzir nosso psiquismo, nossa criatividade, nossas emoções.”

Enquanto isso, a vida segue, com os fatos acontecendo e chamando nossa atenção. Um deles, recente, foi publicado pelo “O Globo” de 20.01.2024, com o título: “ESCRITORA ADMITE USO DE IA EM LIVRO PREMIADO”. E segue a notícia: “A autora japonesa RIE KUDAN, vencedora de um dos mais prestigiados prêmios de literatura de seu país, admitiu esta semana que “cerca de 5% de seu mais recente romance foram escritos com ChatGPT, ferramenta de inteligência artificial (IA) que, segundo ela, permitiu-lhe liberar seu potencial criativo.”

O último romance da autora, “A torre da compaixão de Tóquio” (sem edição no Brasil), recebeu o Prêmio Akutagawa na última quarta-feira. Em sua análise, o júri declarou que a obra era “tão perfeita que era difícil encontrar defeitos nela”.

Durante a entrega do prêmio, porém KUDAN, de 33 anos, admitiu que usou “todo o potencial de IA para escrever” o livro, com “cerca de 5%” das frases “geradas por IA”.

Inteligência artificial é um tema recorrente no livro de KUDAN, cuja história se passa em uma Tóquio futurista em torno de uma torre-prisão, concebida por uma arquiteta incomodada com a sociedade.
RIE KUDAN também disse que falava frequentemente com a IA e que lhe confiava seus pensamentos mais íntimos. Com isso, as respostas do ChatGPT inspiraram alguns diálogos do seu romance.”

E agora, amigo leitor? Como aceitar que o livro premiado seja integralmente da autoria de RIE KUDAN, se ela mesma admitiu que usou “todo o potencial de IA” para escrevê-lo, com “cerca de 5% das frases geradas por IA”?

E daqui para frente, qual a certeza que teremos que um livro seja completa e verdadeiramente gerado pelo cérebro do autor?

Consulto CLARICE… nossa CLARICE LISPECTOR. Está lá em “Uma aprendizagem ou o livro dos Prazeres”:
“Compreender era sempre um erro – preferia a largueza tão ampla e livre e sem erros que era não entender.”

E ainda, e sempre, CLARICE:
“Aprendi a viver com o que não se entende.”
E, finalmente, o eterno GUIMARÃES ROSA:
“A vida não é entendível… Tudo é mistério.”

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