Cidade Comunidade Cultura Educação Nas Bancas

UNIRIO concedeu título de doutor honoris causa a Edival Nunes da Silva (Cajá)

Cajá foi o preso político mais antigo a deixar a prisão no Brasil e sofreu a tortura imposta pela ditadura

Na última sexta-feira (6), a UNIRIO concedeu o título de doutor honoris causa a Edival Nunes da Silva, conhecido como Cajá. A cerimônia de outorga aconteceu durante a 451ª Sessão Solene do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe), conjunta com a 527ª Sessão Solene do Conselho Universitário (Consuni).

Ex-aluno do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Cajá foi sequestrado em 1978 por agentes da ditadura. Então líder estudantil e comunista, ele foi submetido a torturas durante três dias e mantido em cárcere privado por 12 meses, tendo sido o último preso político libertado durante a ditadura militar. No início da cerimônia, a pedido do reitor José da Costa, foi tocada a música Cá-Já, de Caetano Veloso. “Esta música foi composta no interior do movimento pela libertação do Cajá, quando ele esteve preso no final dos anos 70”, explicou o reitor aos presentes. Na sequência, Da Costa leu um texto de Marcelo Barros, teólogo e monge beneditino pernambucano.

Em sua fala, a vice-reitora Bruna Nascimento defendeu a importância do resgate da memória dos acontecimentos da ditadura militar para que fatos como aqueles não se repitam nunca mais. “Reparar é trazer luz, trazer justiça e trazer hoje a ti, uma pessoa que lutou por nós lá atrás e continua lutando, essa singela homenagem da nossa UNIRIO”, disse a gestora. Na sequência, Bruna leu um texto de Luís Alberto Ruiz, presidente da Comissão de Direitos Humanas do Uruguai.

Filha do homenageado, Mariela Oliveira Nunes, em sua saudação, repassou toda a trajetória de vida de Cajá, desde a infância no Alto Sertão Paraibano até sua vida atual, como sociólogo e ativista político. “As recentes tentativas de golpe de estado que ameaçam a jovem e frágil democracia brasileira demonstram que precisamos de Cajá e de muitos outros homens e mulheres que se dediquem a essa nobre causa de transformar o Brasil e vivermos em um mundo de igualdade e justiça social para todas as pessoas”, disse Mariela.

O Auditório Vera Janacópulos esteve lotado com a grande presença de membros do movimento estudantil e de ativistas de movimentos sociais, que saudaram efusivamente o homenageado com cânticos durante vários momentos da cerimônia. O espaço do evento contou com uma exposição de fotos mostrando Cajá em diferentes etapas da vida.

Quadros com fotos e nomes de outros estudantes do movimento estudantil também torturados durante a ditadura militar estiveram expostos na frente do palco. Em seu discurso, Cajá relembrou a memória de alguns deles, como Emmanuel Bezerra dos Santos e Manuel Lisboa, ambos mortos após torturas cometidas por agentes do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi).

Apesar dos momentos de sofrimento em sua trajetória, Cajá prefere celebrar ter presenciado o início dos principais movimentos populares que demandavam melhores condições para os trabalhadores urbanos e rurais. “Para mim, é uma marca muito maior ter vivido esse ascenso do despossuído, da vontade e do desejo de se organizar e se mobilizar”, disse o sociólogo.

“Surgiu o golpe militar fascista de primeiro de maio de 64 para tentar impedir a marcha de um povo que, há 500 anos, anseia sair do subdesenvolvimento, da opressão, da chibata. E como se parece a brutalidade do golpe de 64, depois do AI-5, dos assassinatos, das torturas, com a tomada da terra dos nossos ancestrais há 500 anos”, analisou o homenageado.

“Não vai passar a tentativa de impedir a humanidade trabalhadora de chegar aos seus objetivos de igualdade, de fraternidade, de compartir os instrumentos e os meio de produção com a coletividade. Tem nos custado caro, vai nos custar mais caro ainda, mas, inexoravelmente a humanidade trabalhadora vai chegar a esse caminho, vai vencer os algozes”, finalizou Cajá

Similar Posts