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Salve Nossa Senhora de Nazarethe que ela proteja nosso município

Editorial - Dulce Tupy

Setembro é um mês cheio de eventos para o município de Saquarema, sem falar do tradicional Dia da Árvore, que antecede a chegada da Primavera, e o Dia de São Cosme e Damião que agita as crianças e tem festa nos terreiros, da umbanda e camdomblé. Mas a principal festa é a católica, sem dúvida, o Círio de Nazareth, que se inicia no final de agosto e tem uma extensa programação até 8 de setembro, que inclui o Círio das Águas, uma procissão marítima, entre outras manifestações da fé. O Círio de Nazareth de Saquarema é o mais antigo do país e data de 1630, quando se iniciou a devoção à santa que apareceu nas pedras onde hoje se ergue a igreja que data de 1820 (e não 1630 como está colocada no alto da porta de entrada, equivocadamente).

A nossa igreja de Nazareth, em estilo barroco, foi construída com a força de toda a população que se euniu para construí-la, carregando pedras, inclusive jovens e criancas… Foi a crença desse povo guerreiro, na maioria pescadores e agricultores, que construiu a mais bela festa da Baixada Litorânea e a que resiste até hoje com seus atrativos religiosos e a parte pagã que são as barraquinhas da feira que se instala no Centro da cidade, na Vila, vendendo um pouco de tudo!

MANIFESTAÇÃO DE PROTESTO

Mas esse ano, um fato chamou a atenção do público. Uma manifestação espontânea de moradores, preocupados com o futuro do município, levou faixas e cartazes para o morro da igreja, demonstrando repulsa por um projeto absurdo de construção do Porto de Jaconé, que embora fique em Maricá, se construído efetivamente, vai mudar a vida em Saquarema. A bela praia, que ficará à mercê dos vazamentos que ocorrem constantemente nas áreas próximas do porto, vai ficar totalmente suja e imprópria para banho, surf e pesca, desde o Costão de Ponta Negra, em Maricá, até a Praia de Jaconé, em Saquarema.

Essa área tão cobiçada pela indústria do petróleo, com olho no pré-sal, é na verdade um espaço de rica biodiversidade marinha que permanece no fundo do mar há séculos. Ali vivem tartarugas, uma grande diversidade de peixes, passam por lá baleias que vêm do sul rumo ao litoral da Bahia para procriar, arraias e outras espécies que sobrevivem entre as pedras, camarões, polvos, lagostas, lagostins e cavalos marinhos, entre outros seres do mar que atraem os pescadores locais e turistas.

PATRIMÔNIO AMBIENTAL

As pedras submarinas que ali se encontram fazem parte do universo dos “beachrocks”, que são rochas de areia, descritas pineiramente pelo naturalista inglês Charles Darwiln, quando tinha pouco mais de 20 anos, ao passar por alí a caminho de Cabo Frio. Todo esse conjunto ambiental já deveria ter sido tombado e preservado, há muito tempo pelo, IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e/ou pelo INEPAC (Instituto Estadual do Patrimônio Artístico e Cultural do Rio de Janeiro) que nada fazem pela preservação desse monumento natural que pertence a todos nós, moradores, surfistas, pesquisadores, historiadores, ambientalistas e turistas em geral.

Que Nossa Senhora de Nazareth, do alto de sua bondade, proteja esse território e a Praia de Jaconé, para que permaneça sendo um santuário ambiental e não um porto! O risco de termos um porto no nosso mar, só nos traz preocupações e medo de vivermos no futuro numa cidade violenta, desordenada e sem os atrativos turísticos que garantiram até agora a nossa sobrevivência, inclusive a fama de capital do surfe, pelas magníficas ondas em toda a orla. Com o porto, tudo se acaba. Tudo será apenas sujeira.

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