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Quilombo de Bacaxá: O primo pobre dos quilombos

Entrevista com o professor Ivan Cavalcanti Proença

O professor Ivan Proença é um dos maiores pesquisadores da cultura popular no país (Foto: Divulgação/ABI)

O Quilombo de Bacaxá é um episódio histórico pouco conhecido. Ocorrido no alto da Serra da Castelhana, alguns apontam o Morro do Amar e Querer, no Rio Mole, como sendo o verdadeiro local onde se reuniram os escravos fugidos. O Quilombo foi massacrado, como exemplo para os futuros fugitivos, na então Província do Rio de Janeiro.

  1. Onde e quando ocorreu o Quilombo de Bacaxá?
    Quais as circunstâncias que levaram os escravizados a criar o Quilombo de Bacaxá?

Tudo ocorreu no século XVIII e o principal fator de ocorrência deste, como de outros Quilombos, foi a própria carga de desumanidade intrínseca à escravidão.

  1. Por que a Oficina Literária Ivan Proença escolheu o tema Quilombo de Bacaxá para pesquisa, de onde resultou o livro Testemunho IV, com contos e poemas, publicado em 2003? Vocês, o professor Ivan e seus alunos, visitaram Bacaxá em busca de informação e inspiração para a conclusão do curso e a publicação dos contos e poemas. Chegaram a visitar o pesquisador Herivelto Pinheiro e o que mais vocês fizeram e encontraram em Saquarema?

O Testemunho foi relativo a Saquarema: tradições, hábitos e costumes, Sambaquis, ex-votos, a feira de domingo (feirante cantador e pregoeiro), toponímia, literatura, festejos, etc,etc e o Quilombo. Sim, Herivelto e seu notável arquivo foram fundamentais para as pesquisas.

  1. O Quilombo de Bacaxá foi o primeiro – ou um dos primeiros – no Estado do Rio de Janeiro. Faça, por favor, uma perspectiva histórica do Quilombo de Bacaxá, na linha do tempo e no território de Saquarema. O que era Saquarema antes e depois do Quilombo de Bacaxá?

Tudo que significa memória constitui problema para nós, brasileiros. Pouco preservamos nossas tradições em termos de registro documental, social, cultural. Assim, muita polêmica e poucas certezas. Tudo indica que o Quilombo de Bacaxá foi um dos primeiros no Estado. Exemplo de resistência e luta libertária, inclusive para o hoje brasileiro.

  1. Ainda existe o processo do Quilombo de Bacaxá nos anais da Justiça? Onde pode ser pesquisado o Quilombo de Bacaxá pela novas gerações?

Suponho que sim. Sugiro pesquisa no IHGB (publicações) e na Biblioteca Nacional. Alguns dos velhinhos que contactamos, como Sr. Abelardo e Sr. Cosme, já faleceram.

  1. Qual a comparação possível entre o Quilombo de Bacaxá e outros quilombos no Rio de Janeiro, como o Quilombo de Vassouras, e no Brasil, como o Quilombo de Palmares?

O Quilombo de Bacaxá é o “primo pobre” dos Quilombos no Estado. Como se sabe, pouco se pesquisou, poucos os registros. Alegam o fato de ser região litorânea. Não justifica. Tal memória, dos Quilombos, pertence à nossa identidade cultural, e preservar essa identidade é Ato Político maior. Este o nacionalismo a manter, e não o ufanismo patriótico “esperto”, eleitoreiro.

Em Saquarema, Ivan participou do lançamento do livro Tamoios, Senhores do Litoral, do saudoso Paulo Oliveira (Foto: Edimilson Soares/Jornal O Saquá)

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