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A amiga e companheira Maria Prestes

As companheiras Maria Prestes e Dulce Tupy, na entrada da Câmara Municipal, no centro de Saquarema. Por solicitação da jornalista aos vereadores, Maria Prestes foi homenageada com o título de “Cidadã Saquaremense” e, mais tarde, com o de “Mulher de Ouro”, honrarias da Câmara Municipal” (Foto: Agnelo Quintela)

Dulce Tupy

Maria foi uma guerreira. Mulher, mãe de 9 filhos, cada um em uma circunstância diversa do outro, conseguiu reunir toda a família que construiu ao lado do líder comunista Luis Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança, na Rússia, no tempo da União Soviética. Segundo ela, foram os melhores anos de sua vida! Acredito que sim, e depois… Saquarema. Maria veio para Saquarema depois da campanha de Brizola para presidente, em que ele não foi eleito mais uma vez, infelizmente.

Nos éramos do PDT, e eu presidente do Movimento de Mulheres do Estado do Rio de Janeiro. Maria era a minha presidente de honra! Prestes tinha acabado de falecer e ela caiu num ostracismo total, em seu apartamento na Gávea, doado pelo gênio Oscar Niemeyer. Um apartamento grande, 4 quartos, 1 suíte, onde Maria reinava como chefe do clã. Cheguei lá com a missão de convidá-la pra o Movimento de Mulheres do PDT-RJ. Ela aceitou e a partir daí viramos a corda e a caçamba.

Maria Prestes em sua casa, na Manitiba, ao lado da casa de sua filha Zoia (foto: Michele Maria)

Sempre juntas, ficamos amigas, além de companheiras, e assim viajamos para Saquarema, onde tomamos posse de uma casa da minha família que se encontrava abandonada há anos. Aos poucos reconstruímos esse patrimônio e Maria se encantou definitivamente por essa praia, esse sol e esse mar… Aqui comprou um terreno e iniciou a obra, que começou a ser frequentada por todos os filhos e netos… Aqui tivemos dias memoráveis! Almoços e vodka, conversas infinitas, livros, filmes. Memória.

Aqui, fizemos um ato em homenagem a Luis Carlos Prestes na Câmara Municipal de Saquarema. Neste dia, cheguei a ver moradores do município chorando no escurinho, ao ver as cenas do documentário sobre “O Velho”, como era conhecido Prestes dentro do partido, o PCB (Partido Comunista Brasileiro). Maria foi uma escola pra mim.
Muitos anos de convivência, inclusive comunitária. Aqui criamos a Associação de Moradores e Amigos de Barra Nova (AMA-Barra Nova), entre outras associações de bairros. Fundamos também a Federação das Associações de Moradores e Amigos de Saquarema, que chegou a reunir mais de uma dezena de associações. Realizamos o Primeiro Encontro de Associações de Moradores, no CIEP Astrogildo Pereira, em Bacaxá, Segundo Distrito de Saquarema, coordenado pelo meu companheiro Edimilson Soares.

Passaram-se anos e, quando já tínhamos deixado o PDT e o movimento comunitário, até pela idade avançada, um dia telefonaram do CEDIM (Conselho Estadual dos Direitos da Mulher-RJ), me pedindo para dar um depoimento sobre a Maria. Perguntei: quem me indicou? A funcionaria, Maria Helena, responsável pelo projeto Memória Viva, me disse que foi a própria Maria Prestes, que também indicara o jornalista Maurício Azedo, então presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa).

Maria Prestes em evento no CACS, Círculo Artístico e Cultural de Saquarema (Foto: Edimilson Soares)

Fui, de ônibus, sozinha, de manhã, e cheguei na hora do almoço, a tempo de receber Maria Prestes na porta do sobrado suntuoso – sede do CEDIM – na Rua Camerino, no Centro do Rio, próximo à região do porto. E rimos as duas, subindo de braço dado os degraus que nos levariam direto para a frente da câmera da cineasta Eunice Guttman. Ali nos despedimos e nosso contato foi cada vez mais rareando, apesar de Saquarema… mas o filme ficou, para sempre.
Agora, com a terrível COVID 19, há dois anos, passei em sua casa na Manitiba, bairro perto de Barra Nova, onde moro. Fui levar o jornal O Saquá, que ela estendeu o braço, de longe, para pegar. Tinha medo de ser contaminada. Voltou ao Rio, onde ficou reclusa por mais de um ano, morando apenas com o filho Luiz Carlos Prestes Filho, o Carlinhos, seu filho dileto! Agora veio a notícia, que ela tanto temia: o diagnóstico com essa doença traiçoeira que tem levado tantos amigos e parentes à morte! Mas Maria vive e viverá sempre na memória de todos que conviveram com ela um dia, sua família, seus parentes, seus companheiros e companheiras.
Viva, Maria! Maria, vive!

Amante da cultura popular, Maria Prestes posando com a bandeira da Folia de Reis Estrela Dalva, de Sampaio Corrêa, na varanda da residência do casal Dulce Tupy e Edimilson Soares, onde a folia se apresentava frequentemente (Foto: Dulce Tupy)

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