Muitas têm sido as notícias que nos surpreendem, causam perplexidade e indignação. Nosso planeta está enfermo e as consequências disso, agora, são sentidas em todo mundo. Quanto às guerras, lembro de sábias palavras de Lygia Fagundes Telles, em seu livro “Verão no Aquário”, de 1963: “Já me convenci mesmo que o estado normal do mundo é o de guerra, a paz está se transformando numa anormalidade.” Pois é!…
Mas notícia recente de que tomei conhecimento, fez nascer em mim um sorriso pela boa surpresa e originalidade do fato. Eis a manchete do jornal “O Globo”, de 03.05.2024: “Orangotango trata ferimento com ervas da floresta”. E o sub-título: “Em Sumatra (na Indonésia), pela primeira vez, cientistas observam animal usando plantas reconhecidamente medicinais para curar machucado.”
Em texto de Radolfzell, Alemanha, ele nos informa: “Conhecidos por sua elevada inteligência, primatas como orangotangos e chimpanzés já foram vistos se automedicando em inúmeras situações, como esfregando braços e pernas com folhas mastigadas para tratar dores musculares, ou até mesmo ingerindo plantas capazes de tratar infecções por vermes. Agora, pela primeira vez, cientistas observaram um orangotango tratando uma ferida aberta com ervas reconhecidamente medicinais, dando ainda mais pistas sobre as origens de tratamentos humanos com plantas de propriedades anti-inflamatórias e analgésicas.
A descoberta foi divulgada em 02.05.2024, pelos pesquisadores do Instituto Max Planck de Comportamento Animal, da Alemanha, na Scientific Reports. O estudo foi conduzido numa área de investigação de uma floresta tropical protegida na Indonésia onde a equipe observou, entre mais de 300 exemplares não domesticados da ilha de Sumatra, um orangotango macho chamado Rakus usando folhas e caule mastigados de uma planta para curar um machucado aberto no rosto, provavelmente causado por uma briga com outro macho da mesma espécie, três dias antes. Treze minutos depois de Rakus ter começado a se alimentar do cipó, ele começou a mastigar as folhas sem engolí-las e a usar os dedos para aplicar o suco da planta da boca diretamente no ferimento facial”, escreveram os pesquisadores. Em seguida aplicou folhas mastigadas na ferida até cobrí-la por inteiro. Cinco dias depois, a ferida se fechou. Semanas depois restou apenas uma pequena cicatriz no rosto de Rakus.
Apesar de não se saber se Rakus aprendeu esse procedimento ao observar outro animal, ou se o descobriu sozinho, os cientistas concluíram que o orangotango parece ter usado a planta intencionalmente. Mas os pesquisadores não excluem a possibilidade de se tratar de uma “inovação individual” acidental. Rakus pode ter aplicado acidentalmente o suco da planta no ferimento, logo após colocar os dedos na boca. Como a planta tem efeito analgésico, os macacos “podem sentir um alívio imediato, o que os levaria a repetir a operação várias vezes”, segundo Schuppli.”
Termino com Guimarães Rosa: “Tudo é mistério. A vida é só mistério.”
O Jornal de Saquarema