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Saudade é uma palavra que sepronuncia com muita emoção

Editorial - Dulce Tupy
As irmãs Lygia e Dulce Tupy (Foto: Paulo Lulo)

Saudade sempre esteve presente na minha vida. Emocional como sou, sinto saudade de tudo, ou quase tudo. Recentemente, senti muita saudade de minha irmã que não via pessoalmente há 18 anos; ela morando na Espanha, eu no Brasil. Sentia uma falta tão grande das nossas conversas, da convivência, que sonhava em pegar um avião e aparecer lá de surpresa. Mas não foi possível. Em compensação, ela veio aqui com uma leveza maravilhosa, um ser bastante evoluído, que preencheu todos os espaços da minha saudade.

Fizemos tantos planos para essa viagem que não sabíamos quando aconteceria, mas nem todos puderam ser realizados, por diversos motivos. Primeiro por eu morar em Saquarema há mais de 30 anos e, atualmente, com uma série de restrições médicas. Aos 75 anos, já não posso comandar meu destino como antigamente, sem levar em conta toda a complexidade que é me deslocar com remédios, entre os dias de marcação de consultas médicas, etc. São tantos os impedimentos, que simplesmete não saímos daqui, do entorno de Saquarema-RJ. Vivemos o tão esperado encontro de irmãs aqui mesmo, em minha casa em Barra Nova, naquela antiga casa construída pela nossa mãe, com as bençãos de Nossa Senhora de Nazareth e Yemanjá, embaladas pelas ondas do mar.

PASSEANDO EM SAQUAREMA

Com minha irmã, passeamos muito por Saquarema, pelos bairros, fomos até Maricá e fizemos toda a costa, de Jaconé a Vilatur, conhecendo restaurantes, padarias, praças e, como não poderia deixar de ser, consultórios médicos, farmácias… Ela, com uma figura esbelta e clássica. Eu, com minhas toucas e chapéus fugindo do sol no rosto.

Arquiteta formada na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tornou-se professora de Arquitetura em várias faculdades no Rio e São Paulo, incluindo a Universidade Federal do Espírito Santo. Em São Paulo, fez seu mestrado na USP (Universidade de São Paulo) e trabalhou na CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano). Casada em 2003 com o nosso grande amigo Catalán, artesão e joalheiro paulista, mudou-se para Espanha, país que abraçou e onde vive até hoje.

SAUDADES DO FUTURO

Minha irmã me comoveu, com sua racionalidade brilhante, característica que herdou de minha mãe, advogada e artista plástica. Ao mesmo tempo emotiva, como meu pai, advogado bem sucedido, ex-delegado e ex-promotor de Justiça, minha irmã é a única referência direta que eu tenho de família, além de minha filha, é claro! Ao abrigá-la em minha casa, além do carinho dos parentes que hoje também moram em Saquarema, minha irmã foi muito festejada, em especial pelo meu coração envelhecido. Mas ela aproveitou bem sua visita de duas semanas em São Paulo, onde foi muito recebida carinhosamente pelas amigas de tantos anos de vida profissional e afetiva.

Tomara que eu possa recebê-la no próximo ano ainda melhor e possamos fazer os passeios que projetamos, mas não conseguimos realizar agora. Nesse momento, bastou ficarmos juntas, com nossas memórias, percorrendo as ruas da nossa infância na Tijuca, bairro onde nos criamos, no Colégio das Irmãs Marcelinas, onde estudamos, e na casa grande, bela e cercada de plantas de nossa avó. Saudade, minha irmã, já estou sentindo novamente. Saudade.

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