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Morreu Rita Lee, iluminandonossa eterna fonte da juventude

Editorial - Dulce Tupy

Sim, é verdade. Rita morreu, acompanhada de perto pelo marido Roberto Caravalho e pela família, principalmente seus 3 filhos, em sua casa, em São Paulo. Assim se fechou um ciclo que foi nossa fonte eterna da juventude. Rita eternizou a juventude com suas irreverência e rebeldia. Para Rita, era proibido proibir! O que importava mesmo era o prazer de fazer tudo que fazia. Quando menina, aos 5 anos, sofreu um abuso sexual que marcou toda sua vida, mas só revelado recentemente em sua biografia, publicada em 2016. Agora, vai sair outra biografia, póstuma, que Rita escolheu para ser lançada no Dia de Santa Rita de Cássia, dia 22 de maio.

Rita sempre foi assim. Com Os Mutantes, primeiro grupo de rock que incorporou nos anos 60, Rita apareceu vestida de noiva, grávida, ao lado dos dois guitarristas e junto com o já consagrado Gilberto Gil, num Festival da Canção. Foi um pequeno/grande escândalo, devido às guitarras elétricas que entravam em choque com os violões da Música Popular Brasileira. Mas Rita não estava nem aí para as discussões. Tudo que queria era música, compor, cantar e dançar!

UMA AUTÊNTICA TROPICALISTA

Rita então foi incorporada definitivamente à Tropicália, movimento musical liderado por Caetano Veloso e Gilberto Gil, além deTom Zé, os baianos que revolucionaram a MPB. E juntou-se também ao coro tropicalista, ao lado das musas Bethânia e Gal Costa. Mas só ela foi encarcerada por quase 50 dias, acusada de portar maconha, muito combatida na época da ditadura civil e militar, nos anos de chumbo que recaíram sobre o Brasil. Tempos depois, foi morar em Londres, perto de Gil e Caetano que já tinham partido após as suas prisões no Rio. Na terra dos Beatles, Rita Lee conheceu o LSD, um alucinógeno, que abriu sua mente para as conexões com o universo onírico que nunca mais deixou de viver.

Hoje, sendo velada no Planetário do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, Rita revela sua total coerência com o cosmo, de onde veio e para onde vai, numa chuva de estrelas. Do pó veio e ao pó voltará, cremada em cerimônia fechada somente aos parentes e poucos amigos próximos. Vai, Rita, vai ser mais uma na constelação onde se encotram outros gênios da raça, como Janis Joplin e Hendrix. Mas não dá pra esquecer sua conexão também com a bossa nova e João Gilberto, que pareciam dois namorados na gravação da música “Bijoux e balagandãs”…

PARA SEMPRE REVOLUCIONÁRIA

Rita Lee, com suas músicas e seus figurinos improváveis, foi uma marca de seu tempo. Livre, leve e solta. Representou a libertação das mulheres dos anos 60, 70 e 80 num país ainda avesso à liberdade e preso aos grilhões dos quartéis. Manteve sua espinha ereta na vida e no palco, onde esbanjava criatividade e emoção. Não se dobrava às imposições medíocres da sociedade, gravando somente o que queria, quando e como queria, sem abrir precedentes! Foi honesta consigo mesma. Honesta e linda! Hoje, diante de Rita Lee, cujas músicas embalaram meus 7 anos (de 1971 a 77) vividos em São Paulo, concordo absolutamente com Caetano que foi ela a mais perfeita tradução de Sampa, novo quilombo de Zumbi. Rita, eterna revolucionária!

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