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Saudoso Manoel

Cultura é Notícia - Beatriz Dutra

Sempre sorrio ao ler que você preza “a velocidade das tartarugas mais do que a dos mísseis.” Eu também, poeta…, eu também!… E quantos pensam como você, especialmente, no Pantanal… E prezar é ter apreço por, gostar, estimar, apreciar… Mas também é: querer para si, desejar, almejar… E convenhamos, querido poeta, que para atendermos às necessidades da vida de hoje, a velocidade da tartaruga é impraticável, insuficiente, e, talvez, a solução esteja no meio-termo, numa espécie de média entre as velocidades das tartarugas e a dos mísseis… Quem sabe, chegássemos ao voo da gaivota?… Poético e prático, ao mesmo tempo… Por um lado, pura contemplação da misteriosa beleza do mar… E por outro, o indispensável aguçamento no olhar, para, de longe, enxergar o peixe, e num mergulho certeiro fisgá-lo, indispensável que é, à sua sobrevivência… Assim, a gaivota harmoniza a contemplação com a ação, isso, cotidianamente… E não seria esse, o viver ideal? Contemplação e ação?

E nós? Preocupamo-nos com a contemplação? Há lugar para ela em nossas vidas? Vivemos tão apressadamente que, muitas vezes, nem olhamos a lua que acabou de nascer… Nem reparamos na beleza que acabou de passar ao nosso lado… Na rosa que se abriu majestosa e ninguém a contemplou, preocupados, todos, com o corre-corre e a competição de cada dia… Ou seja, perdemos a capacidade de CONTEMPLAÇÃO. E, para BURCKHARDT, “a contemplação, mais do que um dever, é uma OBRIGAÇÃO. Ela representa nossa parcela de LIBERDADE, em face do constrangimento das coisas e do império da necessidade”. Assim, estamos todos correndo, competindo, todos os dias… Precisamos ser espertos e sagazes para sobreviver… Mas, há muito tempo atrás, SÊNECA já nos ensinava que “nada é tão prejudicial à sabedoria como a excessiva sagacidade”…

Assim, querido Manoel, para sobrevivermos na vida atual, prezo mais a velocidade do voo das gaivotas, pelas razões expostas, do que a dos mísseis!… Desculpe-me, sim?, querido Manoel…

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