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O balanço de Paulo Melo: valeu!

O deputado Paulo Melo, de volta à Assembleia Legislativa (Alerj) (Foto: Divulgação/Alerj)
O deputado Paulo Melo, de volta à Assembleia Legislativa (Alerj) (Foto: Divulgação/Alerj)

 

O deputado Paulo Melo é um dos políticos mais influentes do Estado do Rio de Janeiro. Eleito com o maior número de votos do PMDB, teve uma carreira ascendente desde que se elegeu pela primeira. Em pouco tempo já tinha se transformado em um dos deputados de maior destaque no governo Marcelo Alencar. Foi quando trouxe para sua terra natal, o pequeno município de Saquarema, obras marcantes, como o asfaltamento da Av. Saquarema, de Bacaxá à Ponte Darcy Bravo, no centro de Saquarema, da Av. Ministro Salgado Filho, na orla da Praia da Vila, do Gravatá até Jaconé, e da Rua 96, da Praia até a estrada de Sampaio Corrêa, que asfaltaria mais tarde, facilitando a ligação de Jaconé com Sampaio Corrêa e, mais recentemente, a estrada que liga Jaconé a Ponta Negra.

Nos últimos 20 anos, todas as grandes obras em Saquarema têm a digital de Paulo Melo. São quilômetros e mais quilômetros de ruas asfaltadas, com calçadas, luz e drenagem, em vários bairros. A grande obra da Barra Franca também teve sua intervenção, tendo sido inaugurada no governo Garotinho. Com a governadora Rosinha a parceria rendeu várias obras, entre elas o Centro de Convivência da Terceira Idade, em Itaúna. Como prometido, asfaltou a Estrada do Jardim até a Barreira, completando a volta da Lagoa e fez a Praça do Bem Estar, no governo Sérgio Cabral, que possibilitou também a inauguração da maior escola técnica do interior do estado, a Faetec de Bacaxá e inaugurou o hospital HELagos, referência na região, em parceria com o governo do estado e governo federal.

Com tantos feitos, Paulo Melo conseguiu eleger dois prefeitos da cidade, Peres e Franciane, mas não conseguiu fazer o sucessor de sua esposa, num momento atípico como o atual, quando foram eleitos em todo o país pessoas sem tradição política, como o caso do prefeito Dória, em São Paulo, que nunca havia disputado nenhuma eleição e foi eleito em primeiro turno. Em Saquarema não foi diferente, tendo sido eleita uma mulher que nunca fez política, a dentista Manoela que substituiu na última hora seu marido Peres, impedido de concorrer. Ex-secretário estadual de governo e ex-secretário de Assistência Social e Direitos Humanos do governo Pezão, o deputado acaba de retornar a Assembleia Legislativa (Alerj) onde exerceu o cargo de presidente por dois mandatos e chegou a ser governador interino. Nesta entrevista, aos jornalistas Dulce Tupy e Edimilson Soares, o deputado falou sobre vida e política em Saquarema.

 

 

O SAQUÁ – 27 anos de luta valeram a pena?

Paulo Melo – Acho que sim. Não vale a pena só por Saquarema, mas pelo Estado do Rio de Janeiro. Hoje, um pequeno município como Aperibé tem uma prefeitura moderna, uma Câmara de Vereadores, hospital, rodoviária, ruas asfaltadas, no Norte Fluminense. No Noroeste, trabalhei muito por São José de Ubá. E, em Saquarema e Araruama, que são as cidades aonde eu tenho uma dedicação maior, fiz grandes intervenções. Em Araruama, começamos pela estrada de Praia Seca e chegamos ao Hospital Regional de Araruama, além da Farmácia Popular e da Vila Capri, onde alagava ruas inteiras. Em Saquarema, não dá nem para descrever. A cidade tinha 6 ruas asfaltadas; hoje tem um hospital, a Faetec e obras em todo lugar. A Barra Franca não se concluiu, mas em compensação nunca se pescou tanto na Lagoa de Saquarema; nunca se tirou tanto peixe e camarão como agora. Hoje, temos uma qualidade de vida muito superior em Saquarema. Então, valeu a pena! Quando eu olho pra Saquarema, vejo que de alguma forma eu ajudei, eu transformei. Então valeu a pena.

O SAQUÁ – A partir dos anos 90, todas as mudanças em Saquarema foram graças à intermediação do deputado…
Paulo Melo – Tudo aconteceu pela força de um grupo político que nós tínhamos na época. Eu nunca vou deixar de agradecer as pessoas que tiveram uma participação, mesmo que hoje não estejam mais do meu lado. Uma pessoa que foi fundamental foi o ex-prefeito Carlos Campos. Até o meu grande adversário político hoje, num determinado momento teve importância fundamental, assim como o ex-prefeito Dalton Borges, que foi uma das pessoas que mais trabalhou na minha primeira eleição. A Av. Saquarema foi uma grande obra que fizemos no governo Marcelo Alencar. Depois, foi o bairro São Geraldo, a principal rua de Jaconé e a Av. Ministro Salgado Filho. O Marcelo teve uma grande gratidão, porque o único município em que o Luis Paulo ganhou como candidato a governador foi Saquarema… Fizemos obras que transformaram Saquarema: o Verde Vale, o Condado de Bacaxá, a Raia, Itaúna, a Vila Katy, o Boqueirão, uma parte da Barra Nova, Itaúna, Basiléa, Areal, Jaconé… foram obras que mudaram Saquarema. Sem falar nas obras da prefeita Franciane, as escolas fantásticas, os postos de saúde, a creche de Bicuíba, a de Sampaio Corrêa e outras obras. Hoje, 90% da população é de jovens, uma garotada fantástica, incrível, competente, estudiosa, mas sem memória; não sabe como era a cidade antes, pegaram a cidade pronta! Eles nasceram andando de skate e, em alguns setores com oportunidades de emprego. Não são como os pais deles, como os parentes que tinham que implorar um emprego na Prefeitura. Nós trouxemos a maior obra que é o Polo Industrial de Sampaio Correa! Então eu acho que fiz alguma coisa. Mas também angariei inimigos, adversários, invejosos, pessoas que se violentam com o sucesso alheio. Mas ajudei muito Saquarema; tive um olhar especial pela minha cidade, sem esquecer da minha responsabilidade com o Estado como um todo.

O SAQUÁ – Saquarema acaba de sair de um processo eleitoral surpreendente. O que aconteceu?

Paulo Melo – Foi a vontade do eleitor, que está muito irritado com a classe política. O nosso adversário montou uma rede de intrigas, com fofocas, uma coisa nojenta. Fui atacado de todas as formas! E o resultado foi esse. Em abril do ano passado, o ex-prefeito chegou ao máximo nas minhas pesquisas: 37%. Nesse ano, o máximo que ele atingiu foi 40%. Naquelas chuvas torrenciais em Saquarema, nós caímos nas pesquisas; mas depois recuperamos. O meu candidato chegou a ter 44%. Então, o prefeito não tirou voto nosso. A esposa dele teve 37% da totalidade dos votos, a mesma coisa que as pesquisas já indicavam um ano atrás! Então, o prefeito não tirou um voto nosso! O meu candidato é que deixou de ter voto… O meu adversário teve os mesmos 37% que a pesquisa disse em abril do ano passado. E o eleitor quis assim; respeite-se a vontade do eleitor. Quem vai pagar o salário do prefeito, dos vereadores, dos secretários, é a população. A população tem o direito de experimentar, escolher e mudar. Vamos respeitar.

O SAQUÁ – O deputado teve cerca de 20 mil votos, na sua última eleição, em Saquarema. Os vereadores eleitos agora não chegaram a isso. Significa que não transferiram votos para o candidato Pitico?

Paulo Melo – Não, não é verdade. Os vereadores tiveram muitas dificuldades. Esta foi uma eleição sem dinheiro. Foi uma eleição difícil, curta, de 45 dias. Não foi inércia dos vereadores, pelo contrário; os vereadores também caíram. Como se explica a Taéta, uma das melhores políticas que eu já vi na vida, não se eleger porque a população foi convencida a votar no novo? E aquelas pessoas que foram atendidas por Taéta a vida inteira, acharam que era hora de mudar? Os vereadores foram determinantes na nossa eleição; foram companheiros. Alguns pagaram um preço caro demais por isso. Ver um chefe de família como Paulo Renato preso, um Pitiquinho, um garoto de 26 anos… O próprio delegado disse que não tinha nada contra o Pitiquinho, mas mesmo assim foi mantida a prisão dele em Água Santa e depois em Bangu. O Romacart que é chefe de família, avô, preso, subjugado, humilhado no esquema penitenciário… Eu vou agradecer eternamente a eles! Eles fizeram tudo que podiam. O Kilinho é meu irmão, meu amigo! Os novos vereadores, Janderson, Vanildo e Elísia, oxigenam o parlamento, dão uma nova formatação, uma nova disposição à Câmara de Vereadores.

 

“Fui atacado de todas as formas e o resultado foi esse”

 

O Saquá – Qual o futuro de Saquarema nos próximos 4 anos? E o futuro do deputado?

Paulo Melo – A cidade de Saquarema existe muito antes do deputado Paulo Melo. As pessoas não amam a cidade de Saquarema por causa do deputado Paulo Melo. O deputado Paulo Melo existe porque as pessoas amam a cidade de Saquarema. Mas, ninguém é insubstituível. Cada um tem seu papel, sua importância. Às vezes alguns têm uma sorte maior, como foi o meu caso, de estar no lugar certo, na hora certa, e saber que o trem das oportunidades passa. Eu embarquei nesse trem. Fui deputado num momento especial para o Rio de Janeiro. Depois, Marcelo Alencar me deu condições. Eu nunca fui um deputado de pedir empregos, de pedir secretarias, de participar de esquema disso ou daquilo. Eu sempre fui um deputado que dei meu apoio em troca de realizações, obras e benfeitorias. Eu acho que a cidade de Saquarema vai ter sempre futuro. Recentemente, briguei na ANP (Agência Nacional de Petróleo) para Saquarema receber os royalties do petróleo. A nova prefeita é que vai receber isso. O meu adversário dizia que Saquarema tinha 50 milhões a receber, o que não é verdade; mas nós temos um ativo de 35 milhões, que a ANP vai pagar em 13 parcelas. Então ela vai receber mais 2 milhões dos royalties do petróleo por mês, além do que já está recebendo hoje. Fomos nós que brigamos para ter um Teste de Longa Duração (TLD), para que Saquarema pudesse ser beneficiada com mais royalties. Mas não é nada do que o ex-prefeito dizia; ele mentia, enganava a população! Saquarema recebe 3 milhões, mas a futura prefeita vai ter mais 2 milhões e pouco. É uma receita extra pela qual nós brigamos na ANP. Mesmo depois da eleição, eu estive na ANP para acelerar o processo. A futura prefeita quando entrar vai ter essa receita extra. A minha disputa não é com pessoas. A cidade escolheu, então vamos respeitar e trabalhar com as nossas diferenças. Eu tenho extremas divergências com o grupo do ex-prefeito, que já foi do meu grupo. Não concordo com algumas práticas dele, mas não vou trabalhar para inviabilizar o governo dele. Se amanhã Saquarema precisar de mim, ele sabe aonde me encontrar. Eu sou adversário político em determinados momentos, mas a política acabou e eu não posso ser adversário da cidade.

O SAQUÁ – Você se projetou com luz própria, entrando para galeria dos filhos ilustres de Saquarema, como Alfredo Coutinho, que fez a primeira gramática no Brasil, o poeta Alberto de Oliveira, fundador da Academia Brasileira de Letras, Oliveira Viana, o sociólogo que fez as leis trabalhistas no governo Getúlio Vargas, e Oscar de Macedo Soares, no tempo do imperador. Você chegou a ser presidente da Alerj, onde administrou mais de 3 bilhões e, ao mesmo tempo, é um líder popular; não perdeu suas origens. Continua um homem simples. Qualquer um fala com você na rua, na sua casa ou no seu gabinete.

Paulo Melo – A história escreve sua própria história. Eu tenho documentos no meu escritório no Porto da Roça, onde pretendo fazer um Centro de Memória. Nunca imaginei na vida em ser político; foi uma oportunidade que Deus me deu e eu aproveitei. Às vezes, eu entro na internet e vejo pessoas me ofendendo; às vezes filhos de pessoas que eu ajudei… Estou muito tranquilo. Sou kardecista e acredito no propósito do amor, da vida, de fazer o bem. Às vezes vejo no grupo do meu adversário uma pessoa que já foi muito minha amiga; fiquei muito decepcionado em ver ele dando imposto de renda de parentes meus e meus também para serem divulgados… Eu não consigo entender como a pessoa tem ódio. Eu não tenho ódio; ódio não faz parte dos meus sentimentos. Eu tenho embate. Sou aquele cara da guerra. Eu não sou uma pessoa que tem raiva. Todo mundo entra na minha casa, todo mundo conversa comigo. A maior história que eu posso guardar é a história que está dentro de mim, a história da minha mãe, do meu pai e dos meus irmãos. A história de ter que dormir com 11 irmãos numa sala de colégio porque não tinha aonde morar. É estar dando agora esta entrevista no mesmo local onde morei até ser expulso daqui de madrugada, quando fui colocado na rua. É ver meu pai, um homem que sempre nos ensinou o valor da vida, do respeito às pessoas, e minha mãe que sempre me ensinou a bondade; era uma parteira que não tinha o que comer em casa, mas saía com disposição para fazer um parto, sem nunca ter cobrado nada a ninguém. Às vezes como pagamento trazia uma ou duas galinhas que servia para alimentar seus filhos. Eu só tenho que agradecer a Deus. Deus me deu a oportunidade e eu decidi por esse caminho. Pago um preço caro. Tantas ofensas que recebo; fico triste. Na minha cidade, pessoas querendo que eu me ferre! Uma cidade que não tinha nada! Eu olho para todo lado, vejo tudo asfaltado, e penso: fui eu que fiz! O importante é o que se carrega no coração. Eu carrego uma felicidade tão grande! As mensagens que eu recebo quando acordo, cartas, manifestações de carinho, me fazem ter uma certeza: apesar de tudo valeu!

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