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O dia 31 de março na memória de um jornalista

O jornalista Silênio Vignoli, protagonista da história do jornalismo estudantil (Paulo Lulo)
O jornalista Silênio Vignoli, protagonista da história do jornalismo estudantil (Paulo Lulo)

O antigo prédio da União Nacional dos Estudantes (UNE), na Praia do Flamengo, doado pelo presidente Getúlio Vargas nos anos em que o Brasil participou da II Guerra Mundial, foi o cenário de grandes momentos da resistência estudantil, durante a ditadura militar, a partir de 1964. Alí se realizavam assembleias, reuniões, debates, teatro, cinema, shows e outras atividades, entre elas a edição de um jornal, o jornal O Movimento da União Nacional dos Estudantes (UNE).
Na véspera do Golpe de 1964, no dia 31 de março de 1964, o então presidente da UNE, o ex-governador e ex-senador de São Paulo José Serra, o editor do jornal, Kinjô, o estudante Walter Faria e o então vice-presidente da UNE, o hoje advogado Marcelo Cerqueira, além do diagramador Silênio Vignoli, na época estudante de jornalismo na Faculdade de Filosofia, fechavam as últimas páginas para enviar o jornal à gráfica do jornal Diário de Notícias, onde seria impresso à noite, para circular no dia seguinte…
Até então, segundo Silênio Vignoli, atual editor adjunto do jornal O Saquá, todos na UNE achavam que o golpe tinha sido neutralizado pelo presidente Jango, menos Marcelo Cerqueira que ainda disse: “Se vocês têm material pessoal nas gavetas é melhor levar para casa, porque não sei se amanhã nós estaremos aqui”. Concluído o trabalho no jornal, Silênio foi direto para Niterói, onde morava; Serra foi para o Palácio Guanabara, conversar com o presidente. Havia o risco de invasão da UNE, como de fato aconteceu, inclusive com o prédio sendo queimado.
No dia seguinte, as notícias chegavam truncadas em todo o país e a greve geral impedia a circulação. Silênio foi a pé, do bairro do Fonseca, onde morava com seus pais, até a Estação das Barcas, no centro de Niterói, em busca de informações. Assim, a última edição do Jornal da UNE nunca foi impressa e desapareceu na poeira da história, mas agora volta à tona, graças à memória deste jornalista que não pode e não deve se apagar.

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