

No delicioso livro de RUBEM BRAGA, “AS BOAS COISAS DA VIDA”, de 1989, encontrei interessante crônica intitulada “RITA LEE”, que o nosso admirável cronista escreveu em 1983, em homenagem à irreverente, versátil e (atualmente) saudosa intérprete e cantora.
Na época em que o livro foi escrito, RUBEM BRAGA estava com 70 anos e ela com 30. Mas os 40 anos de diferença entre eles, não foram suficientes para impedir que, na crônica, ele revelasse seu encanto e admiração por ela.
Segundo ele, “a coisa mais bonita que já se escreveu sobre ela foi esta, de NIRLANDO BEIRÃO: “estrela solitária do desbum, estandarte do prazer, deusa de todos as verões, até os da alma…”
E segue RUBEM BRAGA: “Depois de se dizer bonita e gostosa no tempo da Babilônia, declarou a Geraldo Mairynk que não era nem uma coisa nem outra. Não é mesmo bonita, jamais poderia ser chamada de bela – mas com que frequência é linda!…”
E continua o nosso cronista: “Mas sua lição principal há de ser de alegria – as pessoas me dizem que gostam de ver e ouvir Rita porque ela diverte, faz rir.”

E eis algumas perguntas a ela dirigidas por RUBEM BRAGA: “Se estudou balé. Quem faz a coreografia de seu show, a marcação de seus movimentos em cena? Ensaia gestos e caretas ao espelho? Quando menina teve a consciência de poder ser engraçada?”
“A declarante disse nunca ter estudado balé. Ela mesma inventa o que faz.” E diz: “O Santo baixa, Isadora Duncan baixa, a cigana baixa e eu danço conforme a música. Adoro ter um espelho em minha frente para experimentar caras, bocas e caretas. Sempre fui a palhaça da classe, nunca a cê-dê-efe.”
E RUBEM BRAGA: “O que não falei foi de sua voz e de sua maneira de cantar, pois não entendo dessas coisas, mas não se esqueçam de que João Gilberto lhe deu aval. Eu por mim apenas sei da extrema simpatia de sua voz, que faz tantas doces curvas no ar, e se entrega a encantadores vocalises…
Oh, RITA LEE, você faz o nosso Brasil menos pesado… você também é uma alegria do povo, obsessão das crianças, encanto de nós todos homens, a Pátria lhe será grata…
Adeus, ruiva andorinha.”
E dizemos nós: quanta saudade!