
Hoje acordei e vi um pássaro azulado em um galho fino de uma árvore nativa no meu quintal. Da janela da minha cozinha pude ver aquela cor azul típica dos sanhaços, um tipo de pássaro que também existe na versão verde, mais comum do que a azul. Embora com um sol fraco frequente nas meias estações, como primavera e outono, ao contrário do verão e inverno, resolvi andar um pouco pelo meu bosque particular que mantenho no centro do meu terreno à beira mar, em Barra Nova. Minha casa, com mais de 50 anos, construída inicialmente pelos meus pais, os advogados Paulo Netto Tupy Caldas e Dulce Pedra Tupy Caldas, foi uma das primeiras na praia e chamou a atenção naquela época, no final dos anos 60 de século passado.
Minha mãe, também artista plástica, se apaixonou por Saquarema e pela mata de restinga. Tanto que convidou o professor Mário Barata e sua esposa, a artista plástilca Tziana Bonazola, para também construirem uma casa ao lado do nosso terreno, o que aconteceu de fato. Na época, o então prefeito Jurandir Melo estava concedendo terrenos em áreas não habitadas do município. De fato, aqui era um deserto, com excessão da beira da Lagoa de Saquarema, habitada por pescadores locais e sua famílias. Inclusive, uma de nossas caminhadas mais bonitas, era sair de nossa casa – que então se resumia a um quarto, cozinha e banheiro – e caminhar bem devagar até a orla da lagoa, onde viviam em pequenas casinhas os pescadores locais.
PEQUENO BOSQUE
Alguns veranistas, os mais corajosos, se atreviam a pescar no mar de Barra Nova, onde muitas vezes as ondas crescem e o mar se torna muito bravo, causando frequentemente acidentes fatais, como aquele vizinho que brincando com as ondas na beira do mar, levou um caldo e quebrou a coluna, não podendo nunca mais andar… Nosso terreno, com pequenas árvores, sendo algumas frutíferas, com pitangueiras, com pitangas vermelhas, pequenas, ou amarelas, grandes, tinha e tem araçá e abiu do brejo, amoreira e a poderosa aroeira, entre outras plantas medicinais. Procurei limpar o terreno com o cuidado de mater as árvores nativas, algumas belíssimas, como o jacarezeiro do brejo, comum em Barra Nova e Jaconé, onde ainda existem mas raramente permanecem, depois de um processo de ocupação desordenada como vivemos desde os anos 70 até hoje.
Fefletindo sobre esses aspectos, vi com desgosto o terreno ao lado que foi do professor Mário Barata, que foi meu professor de História da Arte, na antiga Faculdade Nacional de Belas Artes, que funcionava entre a Biblioteca Nacional, na Av. Rio Branco, e o Theatro Municipal, no Rio. Ela foi transferida para o Fundão e em seu local foi inaugurado o Museu Nacional, belíssimo. No final do terrível ano de 1969 – ano do AI 5 – fui morar em São Paulo, mas isso é outro assunto! Preciso voltar a Saquarema, onde moro há 35 anos com meu marido, o repórter fotográfico Edimilson Soares, e mantenho além da nossa residência, a casa no segundo andar que foi da minha mãe e depois ficou pra minha filha Lia Caldas e seu marido Pedro Stabile, que às vêzes vêm nos visitar. Moradores de Friburgo, são yogas. Minha filha também é artista plástica e tem um canal no Youtube. Vale a pena visitar.