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‘‘Clarice Lispector entrevista’’

Cultura é Notícia - Beatriz Dutra

Para quem gosta de ler, está recém-chegado às livrarias, um presentão de Natal ou de Ano Novo: o livro “Clarice Lispector entrevista”, que reúne 83 conversas (35 delas inéditas) da autora, com grandes personalidades de diversas áreas entre os anos 60 e 70.

– “Ela fazia tudo de uma maneira própria: não satisfeita de reinventar o romance e o conto, reinventou a entrevista” – segundo a pesquisadora britânica Claire Williams, especialista na obra de Clarice, prefaciadora do livro e organizadora da edição. (O Globo, 28/10/2024), em matéria de Bolívar Torres.
Abaixo, alguns trechos dessas entrevistas: 1) Com NELSON RODRIGUES: C.L – Você fala em encarnação e em vidas passadas. Você é esotérico? Acredita em encarnação? R: Eu sou apenas cristão, se é que o sou. A única coisa que me mantém de pé é a certeza da alma imortal. Eu me recuso a reduzir o ser humano à melancolia do cachorro atropelado. Que pulhas seríamos se morrêssemos com a morte. 2) Com TOM JOBIM: C.L – Agora vou lhe fazer as minhas três perguntas clássicas: Qual é a coisa mais importante do mundo? Qual é a coisa mais importante para a pessoa como indivíduo? E o que é o amor? R: A coisa mais importante do mundo é o amor. Segunda pergunta: a integridade da alma, mesmo que no exterior ela pareça suja. Quando ela diz que sim, é sim, quando ela diz que não, é não. E durma-se com um barulho desses. Apesar de todos os santos, apesar de todos os dólares. Quanto ao que é o amor, amor é se dar, se dar, se dar. Dar-se não de acordo com o seu eu… mas de acordo com o eu do ente amado. 3) Com VINICIUS DE MORAES: C.L – Qual é a artista de cinema que você amaria? R: Marilyn Monroe. Foi um dos seres mais lindos que já nasceram. Se só existisse ela, já justificaria a existência dos Estados Unidos. Eu casaria com ela e certamente não daria certo porque é difícil amar uma mulher tão célebre. Só sou ciumento fisicamente, é o ciúme de bicho, não tenho outro. C.L – Fale-me sobre sua música. R: Não falo de mim como músico, mas como poeta. Não separo a poesia que está nos livros da que está nas canções. 4) Com DJANIRA: C.L – Eu quero saber tudo a seu respeito. E cabe a você selecionar o seu tudo, pois não quero invadir sua alma. (Aqui Clarice deu uma verdadeira aula de ÉTICA para os entrevistadores de todo o sempre…). Quero saber porque você pinta e quero saber porque as pessoas pintam… E quero a verdade, tanto quanto você possa dar sem ferir-se a si própria. Se você quiser me enganar, me engane, pois não quero que nenhuma pergunta minha faça você sofrer. Se você sabe cozinhar, diga, porque tudo o que vier de você eu quero. R: – A gente pinta como quem ama, ninguém sabe por que ama, a gente não sabe por que pinta.

E mais! Muito mais, para ser saboreado no maravilhoso livro de Clarice Lispector!…Genial!… En-can-ta-dor!…

Feliz Natal, amigos!…

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