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Não foram bruxas que queimaram; apenas mulheres

Editorial - Dulce Tupy

“Não foram as bruxas que queimaram. Foram mulheres. Mulheres que eram vistas como: muito bonitas, Muito cultas e inteligentes, porque tinham água no poço, uma bela plantação (sim, sério), que tinham uma marca de nascença, mulheres que eram muito habilidosas com fitoterapia, muito altas, muito quietas, muito ruivas, mulheres que tinham uma forte conexão com a natureza, mulheres que dançavam, mulheres que cantavam, ou qualquer outra coisa, realmente.

Qualquer mulher estava em risco de ser queimada nos anos 1600. Mulheres eram jogadas na água e se podiam flutuar, eram culpadas e executadas. Se elas afundassem e se afogassem, eram inocentes. Mulheres foram jogadas de penhascos. As mulheres eram colocadas em buracos profundos no chão.
Por que escrevo isso? Porque conhecer nossa história é importante quando estamos construindo um novo mundo. Quando estamos fazendo o trabalho de cura de nossas linhagens e como mulheres. Para dar voz às mulheres que foram massacradas, para dar-lhes reparação e uma chance de paz”.

ATRAÇÃO FATAL

Esse texto que me foi enviado pelo amigo e museólogo Giovani Andrade, arquivista do jornal O Saquá por vários meses no ano passado, revela um pouco dessa história trágica que revela o mito das “bruxas”. A mensagem via Whatsapp veio no Halloween, Dia das Bruxas, fartamente comemorado nos Estados Unidos, um país de histórias trágicas promovidas por grupos radicais como a Ku Klux Klan, que até pouco tempo chegava ao absurdo de matar lideranças negras das quais discordava politicamente, e mantém uma incrível atração pelo fogo e pelas fogueiras!

O Halloween é comemorado até hoje em vários países. Com origem no Reino Unido, no século 16, designava a noite anterior ao Dia de Todos os Santos, 10 de novembro. No século 18, tornou-se um festival pagão que marcava o fim do verão europeu e a abundância das colheitas. Durava 3 dias e celebrava a data em torno das fogueiras que eram utilizadas, desde a Idade Média, para a queima do joio com símbolo do rumo a ser seguido pelos cristãos, para repelir “bruxarias” e combater a peste negra.
Em 1845, durante a “Grande Fome” na Irlanda, 1 milhão de pessoas imigraram para os Estados Unidos, levando suas histórias e tradições. Em 1870, o Halloween era considerado um feriado “inglês”. Porém, o Dia das Bruxas nos Estados Unidos adotou o milho como símbolo do Halloween americano, gerando os espantalhos usados na decoração do Dia das Bruxas, e mais tarde a abóbora esculpida e luminárias fantasmagóricas.

BRUXAS E SACI

No Brasil, o Halloween passou a ser comemorado no final do século passado. Porém, desde 2003 passou a ser comemorado também o Dia do Saci, figura folclórica brasileira, em contraposição ao Hallowen americano. Não vingou! Tanto como as mulheres na Idade Média, o Saci é considerado um ser meio mágico, capaz de trapaças e coisas inimagináveis. Vive na mata e se esconde atrás das árvores.

Conversando com a minha amiga Luiza Amorim, ela soltou uma frase que colocou no seu perfil, na internet, e acabou viralizando na rede: “A Humanidade sempre teve medo das mulheres que voam, sejam elas bruxas, sejam elas livres”. Adorei! Tudo isso me faz lembrar uma outra frase digna de nossa geração de mulheres que ousaram na vida: “A mulher é o negro do mundo”, dita por nada menos que Yoko Ono, mulher do” beatle” John Lennon.

A artista plástica de vanguarda e compositora musical Yoko Ono era um ser que voava alto, como um besouro; mas era uma borboleta que pousou em Nova York para viver os dias mais doces de sua vida, interrompidos pelo brutal assassinato de seu marido John Lennon, falecido há 40 anos, em 8 de dezembro de 1980! Yoko vive! John Lennon vive! As mulheres… Ah! As mulheres…

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