Ele nasceu e sempre viveu em Saquarema. Filho e neto de pescadores, tem filho e neto que pescam também. Presidente da Colônia de Pesca Z-24, cumprindo seu primeiro mandato como vereador, Matheus é um líder nato, que mudou os rumos da Colônia, quando ela estava prestes a sucumbir, depois de ter perdido a sede, situada numa rua às margens da Lagoa de Saquarema, devido a uma causa trabalhista, que envolvia um dentista e outros funcionários. Nesta ocasião, a imagem de São Pedro, cultuado como santo padroeiro dos pescadores, ficou um período na casa de Matheus, outro período em Itaúna, perambulando pra lá e cá.
Sem sede, a Colônia funcionou precariamente numa salinha nos fundos do Posto de Saúde, ao lado da Defesa Civil, vizinha à Capela Velório. Funcionou também em curto tempo num pequeno entreposto construído na margem da Lagoa de Saquarema, mandado destruir pelo Ministério Público, por estar em lugar impróprio para construções. Junto com um grupo de pescadores, Matheus então conseguiu com o governo do prefeito Antônio Peres, aliado do deputado Paulo Melo, a devolução da sede da Colônia onde estava funcionando uma boate, no prédio arrendado pelo proprietário do imóvel. Em 29 de junho de 2003, dia de São Pedro, Matheus e os pescadores receberam de volta as chaves da sede da Colônia. Foi mais uma luta que os pescadores de Saquarema tiveram que vencer.
Fundada em 1936, a Colônia já tinha sofrido um grande embate, quando as Colônias de Saquarema e de Itaipu foram unificadas à Colônia de Pescadores de Maricá, ficando sem autonomia. Matheus, que quando menino estudou o primário com a professora Quiqui, esposa do pescador e poeta José Bandeira, na sede da Colônia de Pescadores, não se conformou e acompanhou de perto esta situação em que sua família e outros pescadores locais lutaram para reconquistar a condição de Colônia de volta para Saquarema, um patrimônio do município.
“Mesmo pequeno, eu acompanhei tudo, quando o Inácio pegou a Colônia e fez das 3 colônias – Itaipú, Maricá e Saquarema – uma colônia só! Ele destruiu nossa Colônia; nós viramos capatazia; um escritório de Maricá. Mas eu tenho um livro que comprova que Saquarema tinha Colônia desde 1936. Lá tem escrito os nomes do meu avô Matheus, meu pai Anolfo e meu tio Ito. Nós somos uma família de pescadores, de tradição. Aí vieram o Adalto, o Claudir e o Biunga, para resgatar a Colônia de volta. Naquela época, tinha o Expresso Saquarema, de Totinha, que cedia o ônibus para a gente ir lá brigar pela nossa Colônia…” recorda Matheus.
Eleito presidente da Colônia de Pesca em 2001, Matheus se dedicou aos pescadores, participando das audiências no Rio e em Brasília, aprendendo aos poucos sua função e consolidando sua liderança. Apesar de ter “pouco estudo”, como ele mesmo diz, considera que o mais importante é trabalhar “em cima do certo”. Com Matheus, os pescadores abraçaram a causa da pesca. De 2001 a 2002, foi feita a Barra Franca, que não se tornou um canal navegável, mas garantiu que não tivesse mais mortandade de peixes na lagoa. Nesse mesmo período, os pescadores ganharam do governo municipal uma capelinha de São Pedro, instalada na Praça dos Pescadores, em frente à Padaria da Ponte e resgataram a Festa de São Pedro, fazendo bingos e com a bandeira do santo percorrendo as casas dos pescadores…
“Registrei a Colônia no Ministério do Trabalho porque ela não era registrada e, em 2006, a gente conseguiu o defeso do camarão e da sardinha. Depois perdemos o defeso do camarão e da sardinha porque, no entendimento do Ministério da Pesca, o defeso é apenas para quem tem embarcação grande e em Saquarema a pesca é artesanal. Mas continuamos trabalhando, com apoio do Paulo Drude, da EMATER-RJ. Fizemos um projeto com a Petrobras, o PEISPA – Projeto de Integração Social da Pesca Artesanal de Saquarema. Foi uma parceria de 3 anos. Levantamos a Colônia, que estava toda destruída, com mais de 15 mil reais de luz cortada pela antiga CERJ, não tinha poste, estava quebrada, vazando água. E resgatamos também a festa de São Pedro, com a procissão de barcos pela lagoa”, continua Matheus, em sua sala na Colônia de Pescadores.
Atuando em parceria com os governos municipal, estadual e federal, Matheus é parte de um processo de ascensão dos pescadores no Estado do Rio de Janeiro, como em Iguaba Grande onde também o ex-presidente da Associação de Pescadores, o Leandro, foi eleito vereador. Em Paraty, o Vidal, que chegou à Superintendência da pesca do Estado do Rio de Janeiro, hoje sonha em ser prefeito. É a pesca se organizando, lutando agora também por uma melhor distribuição dos royalties do petróleo, o ouro negro que brota no mar. Mas aí já são outros quinhentos…