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Mulheres da América Latina

O Encontro Feminista da América Latina e do Caribe (EFLAC) de 2017 ocorreu nos dias 23, 24 e 25 de novembro no Uruguai, em Montevideo. Contou com o apoio do governo Uruguaio e com o financiamento de organizações como a ONU Mulheres. Cerca de 2.000 mulheres participaram do Encontro. Havia cartazes de divulgação em diversas ruas do local e o Teatro Solis, local nobre da cidade, foi reservado para um show que contou com a apresentação apenas de mulheres. No último dia, durante a marcha organizada pelo EFLAC, outdoors mostravam propagandas sobre violência contra a mulher e desigualdade de gênero. Um megaevento, mas, infelizmente, nem tão democrático.

“Diversas, mas não dispersas” foi a ideia-chave da edição deste ano, que abarcou discussões sobre negritude, lesbianidade, mulheres indígenas, a questão da prostituição e outras. Os debates foram enriquecedores e o panorama geral de cada país bastante similar entre eles: estamos sob uma onda geral de conservadorismo e retrocessos, tanto nas instâncias governamentais quanto no imaginário social, mostrando que, desde o período das ditaduras, a América Latina não saiu do projeto político de governos e corporações internacionais. Deste modo, a ideia de uma resistência plural e interconectada entre os países latino-americanos e o Caribe é fundamental e o Encontro foi bastante positivo neste sentido.

Mas há ainda muitas coisas no plano das ideias que precisam ser materializadas. As mulheres negras e as indígenas, por exemplo, estavam muito fortes, mas ainda eram poucas. As mulheres trans estavam em menor número ainda, bem como as mulheres com deficiência. A maternidade, pauta importante do feminismo, continuou a ser um problema: não havia um espaço em que as mães pudessem deixar suas crianças para que participassem mais tranquilamente do evento.

Ficou claro que é preciso colocar uma pergunta importante, que não diz respeito apenas ao EFLAC, mas a todos os espaços feministas: em quais mulheres os debates feministas estão chegando? As inscrições para o evento eram custosas (e uma viagem internacional nem se fala!) e é fato que é preciso dinheiro para promover um evento como este, mas não houve um amplo incentivo por parte da organização do Encontro para que mulheres de baixa renda participassem. Além disso, a manutenção dos banheiros e a distribuição das refeições eram feitas por pessoas contratadas, em grande parte, mulheres que, mesmo com a proximidade física, estavam afastadas das atividades e discussões em curso – discussões que, por vezes, pautaram a exploração da mulher no mercado de trabalho.

Ainda assim, o EFLAC constitui um espaço de resistência e de intercâmbio de experiências importante. Ao término, surgiram boas propostas e estratégias. Uma delas foi organizar o 8 de março de 2018 de forma integrada entre os países. Mas os debates e as práticas de resistência precisam ser constantemente repensados e atualizados, de modo que sejam cada vez mais horizontais, inclusivos e críticos. Se o sistema é excludente, a luta contra ele não pode ser. E que vivam as mulheres da América Latina e do Caribe, pois aqui se respira luta!
Participou: Mariana Tartaglia, jovem feminista de 18 anos, estudante de Filosofia da UFRJ, com quem tive o prazer de viajar e compartilhar esta vivência.

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