Cidade Comunidade Cultura Dulce Tupy Educação Homenagem Nas Bancas Opinião

Morreu Angela Roro apagandosua presença em Saquarema

Editorial - Dulce Tupy
A grande Angela Ro Ro

Peguei um táxi na Rodovia, em Bacaxá, e o motorista veio até Barra Nova me contando sua pequena/grande história com a Angela Ro Ro. De cara me perguntou se eu a conhecia pessoalmente. Claro que sim! Como crítica de música durante 7 anos e meio na Revista Visão, na sucursal do Rio, eu convivia com todo tipo de cantores e cantoras, instrumentistas, maestros, compositores, produtores de discos (naquela época LPs de vinil), enfim… Eu ia praticamente a todos os shows para os quais era convidada. No Rio de Janeiro havia o Baixo Leblon, da boemia carioca, e mais tarde o Baixo Gávea, com a boemia estendida para vários bares e restaurantes no entorno da praça em frente ao Jóquei Club.
Eu frequentava esses ambientes, onde encontrava personalidades da arte e da intelectualidade local: Caetano Veloso, Chico Buarque, Toninho Horta, Macalé, Wally Salomão, os Novos Baianos, Cazuza, Angela Ro Ro, atores e atrizes da Globo, entre outros e outras. Era uma festa, cheia de jornalistas, poetas, artistas plásticos, escritores e, de vez em quando, raramente, baixava a polícia procurando drogas e drogados. Claro que não éramos nós! Era gente que se infiltrava e tentava de todo jeito nos envolver. Era um espaço de diversão adulta e profissional, técnica, como um império das artes etílicas nas décadas de 1970 e 80, que ninguém do mundo artístico dispensava.

Foi nesse período que surgiu o Noites Cariocas, shows semanais no Morro da Urca, produzido pelo compositor e poeta Nelson Motta, gerando um grande sucesso! Sentada em uma mesa com amigas e amigos, no alto do Morro, vi Angela Ro Ro chegando, a quem eu já tinha sido apresentada, num coquetel na gravadora Polygran, também cercada de amigas e amigos. Ela me olhou, comportada, dando um alô discreto! Porém, sempre bebendo muito, aos poucos foi se soltando, sem parar de me olhar. Ela sabia exatamente quem eu era e eu também sabia quem ela era. Pintou uma vontade de nos conhecermos melhor!

Mais desinibida que eu, ela chamou o garçon e pediu que ele levasse uma garrafa de champanhe para a minha mesa. Devolvi a gentileza, mas ela continuou inisistindo, dessa vez me convidando a tomar uma taça com ela. Definitivamente eu não estava afim. No final do show, me levantei e fui embora. E pensava assim: o que nos unia e nos afastava ao mesmo tempo? Eu sabia a grande intérprete que ela era, a compositora e cantora da hora. Assisti um show da Ro Ro no Teatro Ipanema e nos esbarrávamos quase sempre no Baixo Gávea ou Baixo Leblon. Ela com certeza conhecia minha coluna mensal como crítica de música na Revista Visão, que durou anos…

Tempos depois, vim morar em Saquarema e um dia vi Ro Ro caminhando no Porto da Roça, onde – depois fiquei sabendo – morava com a mãe. Tive vontade de falar com ela, mas dentro de um ônibus não podia saltar e correr! Então, prometi a mim mesma que da próxima vez, eu falaria com ela. Mas nunca mais a encontrei! Soube depois que ela vendeu a casa e voltou pro Rio. Agora apagou-se para sempre! Mas brilha na memória de um motorista de táxi e na de uma jornalista, entre milhares de fãs.

Similar Posts