
Quem gosta de ler e ter que conviver com uma atualidade com guerras, “tarifaços” de Trump a desafiar a economia mundial e inacreditáveis notícias de corrupção prejudicando aos mais necessitados… sem dúvida, tudo isso mina a alegria da vida!…
Mas, felizmente, houve um presente caído do céu: o livro “O OBSERVADOR NO ESCRITÓRIO”, de Carlos Drummond de Andrade, da Editora Record, nova edição, Rio de Janeiro – São Paulo, 2024, no qual está publicado uma seleção do DIÁRIO do referido autor, escrito de 1943 a 1977.
É um privilégio o leitor poder tomar conhecimento desse encontro de DRUMMOND com ele mesmo. Vejam alguns trechos do livro:
Março, 12 (1943) – “A agitação ficou sendo maneira normal de viver.”
Março, 14(1943) – “…sinto aversão temperamental pelo que, nas esquerdas, é desorganização, agitação e ausência de certas delicadezas e sentimentos. E me vejo perplexo no entrechoque de tendências e grupos, todos querendo salvar o Brasil e não sabendo como, ou sabendo demais.”
Abril, 12 (1943) – “Meditação entre quatro paredes: sou um animal político ou apenas gostaria de ser?… Nunca pertencerei a um partido político, isto eu já decidi. (…) e eu no fundo, quero ser um intelectual político sem experimentar as impurezas da ação política? Chega, vou dormir.”
Maio, 20 (1954) – “Perdoa-me não amar-te como queria.”
Abril, 22 (1960) – (…) “ao declarar minha fidelidade ao Rio: Rio antigo, Rio eterno, / Rio oceano, Rio amigo: / O governo vai-se? Vá-se! / Tu ficarás, e eu contigo.” //
Outubro, 25 (1960) – “É muito mais fácil avaliar um poema quando o lemos sem intenção de julgá-lo.” (Manuel Bandeira)
Setembro, 25 (1963) – “Este mundo é um manicômio e um lugar de passagem.” (Guimarães Rosa)
Setembro, 11 (1964) – “Enterro de Cecília Meireles. É demais! Vão-se as pessoas encantadoras, aumenta o vazio em torno. Não quis ver-lhe o rosto. Preferia ver, interiormente, a belíssima fisionomia de sempre, a verdadeira, incomparável Cecília. (…) Cecília era a poesia. É poesia, mas ausente de nós.”
Setembro, 22 (1966) – “Manuel Bandeira telefona. (…) o poeta comenta o preconceito contra a inspiração, revelado por algumas correntes literárias de hoje no Brasil e em Portugal. Alguém teria dito mesmo a Odylo Costa, filho, depois de ler poemas deste: “Estão bons mas são inspirados.” Ora, diz Bandeira, “inspiração é coisa que não pode faltar em poesia e em tudo na vida. Até para atravessar a rua você precisa estar inspirado.”
Meu Deus! Quanta atualidade!…