
A tradicional “Festa do Divino Espírito Santo”, ou simplesmente a “Festa do Divino”, ou apenas “o Divino” foi comemorado no domingo, Dia de Pentecoste, 14 de junho, neste ano em que se completam 255 anos da festividade. Segundo o historiador popular Darcy Bravo, em seu único livro póstumo “Minha Terra Saquarema”, o Divino foi introduzido no município pelo Padre Antonio Moreira e a primeira festa foi presidida por Tomaz Cotrin de Carvalho em 1769, fazendeiro abastado que, às suas expensas, construiu o coreto denominado Império e doou para a Igreja os objetos litúrgicos, como a Corôa de Prata, o Resplendor do Divino Espírito Santo, o Bastão do Menino Rei e outros adereços, tendo sido seguido depois por outros fazendeiros igualmente abastados.
“A Festa do Divino Espírito Santo é uma das mais antigas e amplamente difundidas tradições do catolicismo popular brasileiro. Seu surgimento remonta à data do Pentecostes, celebrada cinquenta dias após a Páscoa. Para os hebreus, esse era o momento de concluir as colheitas do trigo e expressar gratidão pelas boas safras.”, descreve o jornal da Arquidiocese de Niterói. E continua: “Segundo a crença católica, o Pentecostes marca o dia em que o Espírito Santo se manifestou nos apóstolos, capacitando-os a pregar a palavra divina em diversos idiomas, um evento significativo registrado no Novo Testamento. Desde então, essa celebração tornou-se um marco importante no calendário litúrgico, sendo reverenciada com devoção e fervor em comunidades por todo o Brasil”.
De fato, as Festas do Divino foram difundidas no Brasil, assim como nas demais colônias de Portugal, inclusive na África e Ásia. As primeiras referências no Brasil, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, São Paulo e Bahia datam do século XVIII. No Estado do Rio de Janeiro, a principal manifestação religiosa é em Paraty, onde a Folia do Divino é uma atração turística. Mas somente aqui, em Saquarema, um ritual muito antigo permanece. Trata-se da Benção da Farinha, ou Benção da Mesa, realizada em uma grande mesa com montes de farinha, pão e suco de uva, em vez de vinho, como antigamente.
Este ano a Festa do Divino foi maravilhosa, acrescida de rituais de danças e bandeiras. O célebre Coreto do Divino, chamado Império, desde o ano passado vem sendo mantido com vários elementos decorativos belíssimos, renovados anualmente. A missa é esplêndida com seus cantos e tradições. Contando inclusive com a tradicional Procissão do Mastro que acontece duas semanas antes da festa, quando o mastro com a bandeira do Divino percorre as principais ruas do centro até o alto do morro da igreeja, onde se instala o mastro avisando à população que a festa vai começar…
Sim, sobre o Divino em Saquarema, foi publicado o livro “Folias de Saquarema: dois aspectos da cultura popular”, da jornalista Dulce Tupy, premiado pela Lei Aldir Blanc, no âmbito da Secretaria Municipal da Cultura em 2021, quando saiu a primeira edição e a segunda em 2022. Esgotado, aguarda-se este ano uma terceira edição. O livro aborda a Folia de Reis Estrela do Oriente, de Sampaio Corrêa, que infelizmente desapareceu, e a Folia do Divino, que com a força da Igreja Católica e da Irmandade Nossa Senhora de Nazareth se mantém até hoje.
O maior propagador do evento continua sendo há anos o Jorginho da Bandeira, com sua fé e o toque do tambor marcando o ritmo da música cantada pelo pequeno coro incluindo crianças com a mesma entonação há séculos, desfilando até a igreja. Tudo aqui é tradição. Uma tradição que se renova e se mantém, ao mesmo tempo. Graças ao esforço de um grupo de foliões que acreditam na força e no poder do Divino, incluindo milagres! E fogos, muitos fogos para saudar o Divino e anunciar suas bençãos milagrosas.