
Eu li no livro do Darcy Bravo, que conheci na padaria que tinha no Centro de Saquarema, uma pequena informação sobre o Quilombo de Bacaxá. Depois, li num livro que o professor Ivan Cavalcanti Proença me deu, sobre sua Oficina Literária, a mais antiga do país, um conta que muito me tocou sobre o Quilombo de Bacaxá. Há poucos anos atrás, descobri que na Serra do Amar e Querer, havia uma localidade com o nome de Pico do Quilombo. Assim fui reconstituindo uma história verdadeira que se tornou meu objeto de pesquisa.
Durante alguns anos, pesquisei e estudei a história do Quilombo de Bacaxá, que existiu em 1730, no antigo Sertão de Bacaxá, uma área imensa que ocupava boa parte do antigo Cabo Frio. Recentemente, o historiador Pierre de Cristo publicou um livro chamado “Cabo Frio, na rota da escravidão: pequenos recortes sobre o processo escravocrata” (Editora Cafofo Selo e Editora, Cabo Frio-RJ, 2023). Pierre esteve no Museu de Conhecimentos Gerais, em Jaconé, atraído por uma palestra que dei em comemoração do Dia da Pátria, 7 de setembro, há alguns anos, à convite do biólogo e diretor Carlos Alexandre.
No final da palestra, Pierre se identificou e imediantamente convidei-o para se manifestar publicamente para a pequena platéia que costuma frequentar o Museu de Conhecimentos Gerais, construído pelo Alexandre, dar uma palavra sobre os quilombos que eu sabia que ele pesquisava há tantos anos, a partir de Cabo Frio, onde mora. E foi fantástico nosso encontro, emocionante mesmo. Desses encontros mágicos que a gente tem na vida onde rola uma empatia muito grande, uma verdadeira identidade. Sendo assim, continuei minhas pesquisas e iniciei a redação de um livro sobre o Quilombo de Bacaxá, o qual inscrevi num edital lançado pela Secretria Municipal de Cultura, que infelizmente – e sem justificativas plausíveis – foi adiado e depois encerrado sem nenhuma explicação.
O prêmio anunciado de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) para 10 vencedores (e eu era o número 7 na lista de inscrições) sem que ninguém soubesse o verdadeiro motivo não foi entregue, nem onde foi parar o dinheiro, nada! Aqui em Saquarema coisas assim acontecem, sem que ninguém fale nada. Tanto que até hoje ninguém me deu oficialmente nenhuma resposta, embora eu tenha ido tantas vezes em busca de respostas… Agora, recentemente, surgiu uma nova possibilidade. Submeti novamente o texto para um novo edital da Subsecretaria Municipal de Cultura (a antiga secretaria foi rebaixada a subsecretaria) e não fui habilitada.
Um dos motivos da minha não habilitação no edital foi que o assunto “não é de interesse da comunidade”, escreveu um dos julgadores, parecista. Isto me caiu como uma ducha de água fervendo! Como não é, se trata de um episódio histórico da maior relevância e totalmente desconhecido do grande público, dos moradores, dos professores locais? O Quilombo de Bacaxá é um tema que deveria estar sendo estudado como matéria obrigatória em todas as escolas do município e dos demais da Região dos Lagos. É parte expressiva da sociedade escravocrata da época de nossos antepassados, tão importante para a nossa formação como povo, fundamental para os saquaremenses nativos ou não.
Sinto muito esse descaso com a história em Saquarema e particularmente com o mal trato com um assunto tão sério! Enquanto existe hoje em todo o país uma busca por suas raízes históricas, incluindo o trágico capítulo da escravidão, aqui parece que tudo são flores! Tudo é praia, sol! Tudo é uma gracinha, tudo muito legal! Mas a verdade é que esse tema não vai ficar encoberto como alguns desejam, alguns poderosos com a caneta na mão, com o poder político que encobre pesquisas autênticas como essa, que a dura penas consegui concluir e posso publicar em livro a qualquer momento. Com ou sem o apoio da Prefeitura Municipal que não tem a sensibilidade e – por que não dizer a inteligência? – mas ao contrário, demonstra ignorância, para reconhecer seus erros históricos.