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Até onde vai o verso e começa a poesia?

Cultura é Notícia - Beatriz Dutra

Escrevi no poema CERTAS INCERTEZAS: até onde vai a amizade e começa o amor?… Até onde vai a saudade e começa a dor?… Até onde vai o encanto e começa a magia?… Até onde vai o verso e começa a poesia?…

A verdadeira poesia é aquela que chega e encanta, seduz, arrebata e alvoroça o coração e a alma!…
Hoje, o mundo está perplexo com tantas guerras, desvarios… Tanta insensatez e desumanidade!…

“Só a beleza salvará o mundo!”, escreveu DOSTOIÉVSKY. Então, trago aqui uma seleção da beleza eterna de versos de CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, que, certamente, nos ajudarão a viver melhor: Tenho apenas duas mãos / e o sentimento do mundo… // Não, meu coração não é maior que o mundo. / É muito menor. / Nele não cabem nem as minhas dores. // O amor, seja como for, é o amor // Não serei o poeta de um mundo caduco. / Também não cantarei o mundo futuro. / Estou preso à vida e olho meus companheiros. / Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. // … Pouco importa venha a velhice, que é a velhice? / Teus ombros suportam o mundo / e ele não pesa mais que a mão de uma criança. / As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios / provam apenas que a vida prossegue e nem todos se libertaram ainda. / Alguns, achando bárbaro o espetáculo, prefeririam (os delicados) morrer. Chegou um tempo em que não adianta morrer. / Chegou um tempo em que a vida é uma ordem. / A vida apenas, sem mistificação. // Chega um tempo em que não se diz mais: Meu Deus. / Tempo de absoluta depuração. / Tempo em que não se diz mais: meu amor. / Porque o amor resultou inútil. / E os olhos não choram. / E as mãos tecem apenas o rude trabalho. / E o coração está seco. // Meu coração não sabe / Estúpido, ridículo e frágil é meu coração. // No céu também há uma hora melancólica. / Hora difícil, em que a dúvida penetra as almas. / Por que fiz o mundo? Deus se pergunta / e se responde: Não sei. // Hora de delicadeza, / agasalho, sombra, silêncio. / Haverá disso no mundo? // De tudo ficou um pouco… / Pois de tudo fica um pouco…/ Fica sempre um pouco de tudo. // O tempo – que fazer dele? Como adivinhar, Luís Maurício, o que cada hora traz em si de plenitude e sacrifício? // Balançando entre o real e o irreal, quero viver // Fosse eu Rei do Mundo, / baixava uma lei: / Mãe não morre nunca, / mãe ficará sempre / junto de seu filho / e ele, velho embora, / será pequenino / feito grão de milho. // A bomba não destruirá a vida / O homem (tenho esperança) liquidará a bomba. // Amor é privilégio de maduros / É isto o amor: o ganho não previsto / Amor é o que se aprende no limite / Amor começa tarde // Quero que todos os dias do ano / todos os dias da vida / de meia em meia hora / de 5 em 5 minutos / me digas: Eu te amo. // E agora, José? / A festa acabou, / a luz apagou, / o povo sumiu, / a noite esfriou, / e agora, José? / E agora, você? // (Fonte: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE – POESIA E PROSA – VOLUME ÚNICO – RIO DE JANEIRO RJ EDITORA NOVA AGUILAR – 1979)

DRUMMOND – ETERNA PRESENÇA EM NOSSAS VIDAS!!!

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