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E era mesmo o fim

Fachada do Pedacinho do Céu (Foto: Dulce Tupy)

Ivan C. Proença

Em memória do
Rubinho e do Pedacinho do Céu

Já faz um bom tempo. Passando pela porta do Pedacinho do Céu, ali estava, para minha surpresa, a placa de vende-se ou aluga-se. Não querendo acreditar, logo pensei, talvez delirando: Isto não vai acontecer. Aparecerá algum mecenas ou algum empresário reativando o nosso tão querido recanto afetivo. Ou a própria Prefeitura, quem sabe, ou Instituição cultural poderá “adotar” o espaço e reativá-lo… Enfim, muito imaginei não querendo admitir o fim. Em vão. Nada aconteceu e o Pedacinho o Céu sai de cena como se fosse um imóvel qualquer, um mero negócio que encerrou seu ciclo. Mas não foi não.

O Pedacinho do Céu foi, isto sim, antes do mais, uma lição democrática, mais eficaz do que qualquer palavrório político. Nos sábados à noite, o servente de pedreiro e a faxineira ali esbanjavam seu lazer musical e dançante ao lado do patrão ou patroa a quem na véspera serviam, e de quem recebiam o “semanal” que pagaria tranquilamente a modesta entrada e a cerveja. Lado a lado com os “chefes”. E todos indo, quase sempre, buscar sua batata frita ou a bebida no bar, equilibrando-os na volta à mesa. Raro o luxo de garçom. E os pés de valsa ou pés de chumbo dançando e se esbarrando nos dois salões, ao som do violão do saudoso Rubinho e da bela voz de D. Norma, os proprietários. E os músicos e cantores, o filho Toni, o baterista Almir, o tecladista (irmão de D. Norma) Betinho, o pandeiro do Cosminho (filho do velho e saudoso músico Sr. Cosme), voz e violão do Luís, cuja dupla com voz e teclado do irmão Jeremias é famosa, tendo, certa vez, se apresentado no Teatro Villa Lobos do Rio, e hoje dupla que conduz os sábados dançantes do Hotel Serra Castelhana (orgulho de Saquarema), além de tantos outros músicos que tocaram no Pedacinho do Céu.

Pedacinho do Céu. Ali nasceram muitos romances, e outros tantos se desfizeram. Era o baile mais tradicional e tão acessível, popular de fato, de Saquarema.

E nada, ninguém salvou o Pedacinho do Céu.

Ali paira, tanto tempo depois, a lacônica, “agressiva”, sentença.

Foi mesmo fim, Saquarema ficou mais triste.

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