O Papa das Américas é um jesuíta com alma franciscana
Fora da lista de favoritos, embora tenha sido o segundo mais votado no conclave que elegeu Bento XVI, em 2005, surpreendeu até os vaticanistas, principalmente pela idade avançada de 76 anos, o argentino Jorge Mario Bergoglio foi escolhido num conclave, com apenas cinco votações, como o 266º Papa da Igreja Católica que reúne 1.2 bilhão de fiéis em todo o planeta. Bergoglio traz em torno de sua batina branca uma série de aspectos inéditos: o primeiro Papa jesuíta, o primeiro não europeu em 1.200 anos, o primeiro latino-americano e o primeiro Francisco, em homenagem a Francisco de Assis, o burguês que pregou Deus de pés descalços.
Punido pelo Vaticano em 1985, o teólogo e ex-frade franciscano Leonardo Boff não esconde seus entusiasmo com a escolha do novo Papa e com sua decisão de passar a chamar-se Francisco: “A escolha do nome já representa um programa de governo. Trata-se de um jesuíta com a alma franciscana da simplicidade, da ética, da solidariedade com os pobres e do amor à natureza.” Fomentar a unidade da Igreja e saber lidar com os seus segmentos internos, dialogar com a diversidade ideológica e anunciar Jesus Cristo no contexto da sociedade moderna são os desafios que o Papa Francisco terá, de agora em diante, na avaliação do padre Luiz Corrêa Lima, também jesuíta, historiador e professor da PUC. A congregação Companhia de Jesus, cujos membros são conhecidos como jesuítas, nasceu no século XVI já a serviço do Papado, desenvolvendo missões no Novo Mundo. A Companhia de Jesus se renovou junto com a Igreja, atuando hoje em campos apostólicos. O jesuíta reitor da PUC, padre Josafá Carlos de Siqueira, acredita que Francisco terá um olhar atento para a educação e o ensino: “Temos no Brasil quatro universidades da Companhia de Jesus, sendo a PUC a primeira fundada no país, e vários colégios dentre os quais, Santo Inácio, em Botafogo no Rio, o mais famoso, onde estudaram conhecidos intelectuais brasileiros, como Vinícius de Morais, Tom Jobim, Chico Buarque, Arnaldo Jabor,entre outros.
A maior ordem religiosa do cristianismo nasceu em 1534, quando os espanhóis Francisco Xavier e Inácio de Loyola conheceram-se em Paris, sede das universidades mais prestigiosas da época. Ocasião em que discutiram a contribuição que poderiam dar à sua fé e chegaram a três palavras: pobreza, castidade e obediência. No Brasil, os franciscanos foram os primeiros a chegar, tornando-se os responsáveis pela primeira missa narrada na carta de Pero Vaz e Caminha ao rei Manuel I. Os jesuítas só atracaram aqui em 1549 e se instalaram no Centro do Rio, no Morro do Castelo hoje demolido. Em 1759, o Marquês de Pombal ordenou a expulsão destes religiosos do Brasil, por considerá-los um empecilho para o desenvolvimento da colônia porque os jesuítas se posicionavam contra escravatura dos índios que, juntamente com as mulheres, eram definidos pela realeza como “umas coisas sem alma.”
Matéria publicada na edição de março/2013