Dulce Tupy

Diva do rock Rita Lee é a mais completa tradução

Editorial - Dulce Tupy

Acordei no dia do show da Rita Lee com um convite na caixa de correio, da exposição do fotógrafo Jean Solari, um veterano do melhor fotojornalismo brasileiro, hoje morador de Saquarema. A exposição no Centro Cultural da Caixa Econômica, no centro do Rio de Janeiro, é a mesma que foi montada ano passado em Salvador, na Bahia. É uma maravilha e resgata a trajetória deste grande repórter fotográfico que atuou nos principais órgãos da chamada grande imprensa. E o convite, acreditem, é uma foto de Rita Lee saltando junto com os demais “mutantes”, Arnaldo Batista e Sergio Dias, no alto do Edifício Copan, em São Paulo. Em junho de 1968, quando fez a foto, Jean Solari trabalhava na revista Realidade, a novidade jornalística da época. Era o tempo dos famosos festivais de música na TV. Pouco depois Rita Lee iniciaria sua carreira solo.

Em Saquarema, um grupo de jovens surfistas acabava de descobrir as melhores ondas do país, na Praia de Itaúna. No início dos anos 70, os campeonatos de surfe começaram a rolar e chegam ao auge em 1976, no encontro de tardes magníficas, noites “calientes” e rock’n roll. A grande mídia descobre então os encantos da pequena cidade. Um show com Ney Matogrosso, Rita Lee, Raul Seixas, Angela Ro Ro, Lulu Santos (na época fazia parte da banda Vímana, onde também tocava Lobão) mobiliza a juventude dourada, os surfistas e os hippies. O espelho: o Festival de Woodstock, ocorrido anos antes nos Estados Unidos, onde se praticava o nudismo e as drogas corriam soltas, principalmente maconha, adrenalina e LSD. Mas aqui predominava era cachaça mesmo, com frutas tropicais. O Havaí era aqui…

“Altas ondas; o mar estava grande” lembra o surfista Rossini Maraca, que competiu naquele histórico campeonato de surfe ao lado de outras feras como Otávio Pacheco, Bocão, Mudinho, Daniel Friedmand e Zeca Proença, surfista, autor de “Você não soube me amar”, sucesso da Banda Blitz liderada pelo parceiro Evandro Mesquita. “Nelson Mota era o produtor. No dia do show a comida acabou na cidade! Em Itaúna e na Praia da Vila tinha mais de 1.500 barracas. Todos os jornais e todas as televisões fizeram a cobertura”, relembra Maraca, hoje publicitário e morador de Saquarema. Foi nesse cenário que Rita Lee conheceu o marido, o guitarrista e parceiro Roberto Carvalho, que tocava guitarra com Ney.

O show de Rita Lee em janeiro de 2012, em Saquarema, não foi um revival. Foi a mais completa tradução do momento que vive Saquarema, uma vila de pescadores que se transformou num balneário descoberto pelos jovens nos anos 60/70 e hoje é um dos municípios que mais cresce na Região dos Lagos, também conhecida como Costa do Sol. Por sua beleza natural, pelo charme de sua igrejinha que data de 1830, pela hospitalidade de seu povo, Saquarema tornou-se nacionalmente conhecida, embalada pelas lembranças saborosas das pessoas que vinham, iam embora e depois retornavam, iniciando um ciclo que passou de pai para filho, de geração em geração.

“Eu já sou vovó”, disse Rita Lee no palco, entre um hit e outro, do seu rosário de sucessos. Em dupla com o amigo Serguei, o dinossauro do rock, reverenciado pela diva, assistimos um show inesquecível e bárbaro. Já a exposição de Jean Solari fica no Rio até o início de fevereiro.

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