Silênio Vignoli

Lupi foi abatido sem o uso da arma de grosso calibre

Opinião - Silênio Vignoli

A fila andou só um pouquinho e mais um ministro, Carlos Lupi, do Trabalho, foi para o cadafalso. Nunca antes, na história deste país, foram degolados sete ministros no primeiro ano de governo de um presidente eleito pelo povo. Seis caíram acusados de corrupção. Bastou o ex-presidente Lula apelar para que os ministros acusados de corrupção tivessem “couro duro” e resistissem às denúncias antes de jogarem a toalha, que os últimos envolvidos em escândalos esboçaram uma resistência patética. O ex-ministro do Esporte, Orlando Silva, esperneou muito, antes de pedir para sair, e o máximo que conseguiu foi um sepultamento de primeira classe, com direito a salva de palmas. Há quem diga que só faltou uma orquestra de metais para embalar com melodias épicas aquela saída triunfal de Orlando Silva.

Já o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, em seguida, parece que se deixou levar por um delírio intempestivo e acabou piorando sua sustentabilidade, ao esbravejar em tom desafiador: “Daqui ninguém me tira. Só se for abatido a bala. E tem de ser bala de grosso calibre porque sou pesado.” Esta resistência, um tanto exagerada, mesmo como força de expressão, atenderia melhor a seus interesses, se Lupi ameaçasse fazer um haraquiri em defesa de sua honra, em vez de provocar alguém para abatê-lo a tiros. Depois foi vulgar: “Sou um osso duro de roer.” E, logo após, num reprovável estilo cafajeste: “Presidente, me desculpe se fui agressivo. Dilma, eu te amo.” Declarações absolutamente inadequadas, para quem ocupa um cargo público de ministro, esfarrapadas e cínicas, como se Lupi estivesse desafiando a principal mandatária do país e, de contrapeso, zombando de nós cidadãos, que pagamos seu salário e respectivas mordomias.

O arrastado desenrolar do processo de saída de Lupi reacendeu a impressão de analistas, segundo a qual existem duas Dilmas no palco: a Dilma Furacão, intolerante com os subordinados lerdos, pouco criativos e que têm pavor dela; e a Dilma Eu Te Amo, tolerante com subordinados autores de malfeitos que envolvem o dinheiro público. A primeira é rapidíssima no gatilho. A segunda, bem devagar, quase parando, até porque, como diz o senador Aécio Neves (PSDB-MG), “malfeito para este governo só é malfeito quando vira escândalo”. A saída do sexto ministro envolvido em denúncias de corrupção traz novamente à tona a responsabilidade do ex-presidente Lula, que foi o fiador de todos eles.

A presidente, claramente, utiliza-se de uma tática para não brigar com os partidos da base aliada e, muito menos, com o ex-presidente Lula. De fato, Dilma não tem força política para brigar com Lula nem com o PT. Há quem insinue que Dilma também não tem dificuldades de conviver com ministros corruptos, mas sim com ministros corruptos que são descobertos. A presidente só pretendia demitir Lupi por ocasião da reforma ministerial, em janeiro, porque não queria dar à Imprensa o gostinho de ter derrubado mais um ministro com suas denúncias. Mas teve que dar, porque não foi o governo que se deu conta das maracutaias promovidas pelos ministros demitidos. Foi a Imprensa. Então, presidente, viva a Imprensa!!!

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