Silênio Vignoli

PMDB mostra que no Estado do Rio está tudo dominado

Opinião - Silênio Vignoli

Ao que tudo indica, o PMDB vai manter, na eleição do dia 3 de outubro, a condição de maior partido do Estado do Rio de Janeiro, controlando o Palácio Guanabara, a Assembléia Legislativa (ALERJ), 35 prefeituras, incluindo a capital, e outras 38 governadas por partidos que integram a aliança de apoio à reeleição de Sérgio Cabral. Isto sem falar em outras 19 prefeituras da oposição, que fazem parte da aliança que apóia a candidatura de Fernando Gabeira (PV), mas cujos prefeitos, mesmo informalmente, apóiam Sergio Cabral, totalizando 91 prefeituras interessadas em continuar desfrutando do poder ao lado do PMDB.

De acordo com o vice-governador Luiz Fernando Pezão, principal articulador do governo no Interior e candidato à reeleição, nenhum prefeito faz oposição declarada ao governador Sérgio Cabral, numa prova de reconhecimento às obras realizadas nos últimos anos, que correspondem a cerca de R$ 250 milhões. Prefeitos do DEM renderam-se à injeção de verbas e obras, entre eles o de Resende, José Rechuam que considera que a campanha eleitoral não tem apenas 3 meses. “Ela começou há um ano e meio com os investimentos do governo do Estado”, afirmou.

Até os tucanos reconhecem como é difícil fechar os cofres de um município à entrada de dinheiro federal e estadual. O presidente da Executiva Regional do PSDB, José Camilo Zito, prefeito de Duque de Caxias, não pede votos para Gabeira. Compromissado com o candidato à presidência José Serra, diz que respeita Gabeira, mas não faz campanha para ele. “Outra coisa que não faço é dizer que o Sérgio Cabral não fez nada por minha cidade, porque ele fez”, afirma Zito. Já o deputado federal Otávio Leite, membro da Executiva Nacional do PSDB, ressalta que o comportamento dos prefeitos reflete o dos governadores: “O governo federal alicia os governadores com verbas, obras e programas e eles fazem o mesmo com os prefeitos”, diz.

Aliás, essa prática adotada até hoje, historicamente conhecida por “política dos governadores”, foi criada por Getúlio Vargas, na década de 30 do século passado, durante o Estado Novo, e segue o princípio do ex-governador mineiro, Benedito Valadares segundo o qual “manda quem pode e obedece quem tem juízo”. As estratégias que levaram Sérgio Cabral a expandir esta hegemonia inédita do PMDB, na história recente do Estado, permitem traçar um paralelo com o chaguismo, forma de atuação do ex-governador Chagas Freitas que, mediante uma máquina administrativa azeitada e mantendo controle sobre o legislativo, conquistou o apoio da maioria dos deputados, no antigo Estado da Guanabara (1971-1975) e depois o apoio de deputados e prefeitos no Estado do Rio de Janeiro, criado pela fusão dos dois estados (Guanabara e Rio de Janeiro), quando ele novamente foi governador (1979 – 1983).

Historiadora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Marly Motta recorda que Chagas governou num período de exceção (ditadura militar) quando existiam outros instrumentos de pressão; nem assim ele abriu mão de conquistar politicamente os prefeitos a partir da máquina estadual e isso passava, necessariamente, pela Assembléia Legislativa. Segundo Marly, todos os governadores, já no período democrático, conviveram com essa estrutura de poder, mas nenhum deles conseguiu controlá-la como Sérgio Cabral. Certamente, pelo tempo em que presidiu a Assembléia Legislativa, Sérgio Cabral, ao contrário de outros governadores, encontra mais facilidade para lidar com deputados e prefeitos, vinculados a interesses regionais distintos.

Capa O Saquá 125

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Artigo publicado na edição extra de setembro
de 2010 do jornal O Saquá (edição 125)

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