Dulce Tupy

A irreverência da passeata gay tem alma carnavalesca

Editorial - Dulce Tupy

A 14ª Parada do Orgulho, organizada pelo Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBT(Lésbicas, Gays, Bi-sexuais e Transgêneros) reuniu uma multidão de mais de 1 milhão de pessoas na praia de Copacabana. Apesar da chuva, mais uma vez a Passeata “Gay”, como é conhecida – e “gay”, em inglês, quer dizer alegre – valorizou a liberdade e a alegria de ser diferente, anticonvencional e até irreverente, num mundo padronizado, onde os preconceitos chegam a ser criminosos. Na mesma semana em que o governador do Paraná, Roberto Requião, teve a infelicidade de dizer que câncer de mama hoje é uma doença também masculina, porque “deve ser consequência dessas passeatas gay”, a Parada do Orgulho foi uma resposta à altura.

Com apoio da secretária municipal de cultura Jandira Feghali, que destinou 100 mil reais para a manifestação “gay”, a Parada do Orgulho teve a presença do próprio prefeito Eduardo Paes na concentração, que posou para fotografias ao lado da atriz Letícia Spiller, madrinha da passeata este ano. Com 16 trios elétricos, a parada teve como destaque o hino nacional interpretado pela transformista Jane Di Castro, além das tendas com campanhas de educação sexual, com farta distribuição de preservativos e vacinação contra a hepatite B. Os discursos contra a homofobia (fobia de homossexuais) anunciaram também que a programação do evento continua o mês inteiro, com atividades culturais, seminários sobre o tema e debates que se espalham por todo o Rio de Janeiro, capital cultural do país.

Uma pesquisa divulgada pela UniverCidade e Planet Work informou, durante a passeata, que 25 % dos turistas que vêm ao Brasil integram as chamadas minorias sexuais e gastam mais do que os heterossexuais. Ano que vem, será realizado no Rio de Janeiro o Congresso Mundial de Gays, Lésbicas e Travestis, para 5 mil representantes de organizações nacionais e internacionais LGBT. E é um desejo explícito tanto do prefeito Eduardo Paes como do próprio governador Sérgio Cabral fazer uma parada no Rio maior e mais badalada do que a de São Paulo. Para isto, o prefeito já anunciou que vai aumentar o patrocínio que pode chegar até a 800 mil reais, em 2010.

A Parada do Orgulho ou Passeata “Gay” é uma demonstração da alegria que contagiou famílias inteiras em Copacabana e contou inclusive com a presença do ministro do meio ambiente Carlos Minc. Foi um protesto, um ato de afirmação e um momento de alegria, com um toque carnavalesco, pois inúmeros manifestantes vestiam fantasias.

É que o carnaval também tem a irreverência e a magia que transforma pobres em ricos, trabalhadores em reis, tristeza em alegria. Na Antiguidade Grego-Romana, o carnaval era o período em que se interrompiam as guerras, para se comemorar as colheitas. Ao contrário da fome e da morte nos campos de batalha, o carnaval celebrava a fartura e a vida nos campos agrícolas. No Brasil, o carnaval tem este aspecto libertador, mesmo hoje em dia, com os luxuosos desfiles das superescolas-de-samba campeãs, que produzem o maior espetáculo a céu aberto no mundo.

Carnaval é pura alegria em todo lugar e em Saquarema também, onde os blocos percorrem as ruas com suas baterias e seus foliões. Em Jaconé, 2 blocos se inspiraram nas páginas do jornal O Saquá para criar seus enredos. O Sambaqui escolheu o enredo Charles Darwin, baseado em matéria publicada no jornal. E o Sirikissamba cita até o jornal e a jornalista em seu samba-enredo cujo tema é “Jaconé, capital da folia”, uma expressão cravada em reportagens do jornal O Saquá. Assim como a Parada do Orgulho, que encheu de alegria o domingo na praia de Copacabana, o desfile dos blocos em Jaconé, que faz a felicidade das famílias e dos jovens do bairro, merece investimentos e um olhar solidário por parte da sociedade saquaremense.

Capinha O Saquá 114Editorial publicado na edição de novembro
de 2009 do jornal O Saquá (edição 114)

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