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Eliane Potiguara, uma escritora indígena, aqui em Saquarema

A escritora nasce com essa cartilha publicada inicialmente em 1989 (foto: DUlce Tupy)
Livro robusto, com poemas e outros escritos

Eliane Potiguara sempre gostou de Saquarema, desde a primeira vez em que esteve aqui de férias na casa de uma amiga, há mais de 30 anos. Tempos depois, voltou com sua filha Tajira, filha do cantor, compositor e arranjador Taiguara, em busca de um terreno para comprar. Aqui reencontrou antigas companheiras de luta e de trabalho. E escolheu um lote de terra em Jaconé, onde iniciou a construção de uma casa bem agradável, ventilada, entre a montanha e o mar. Eliane Potiguara é autora de vários livros, como “Metade cara, metade máscara”, cuja primeira edição é de 2004, que já está em sua terceira edição, um infantil “O coco que guardava a noite”, publicado em 2012, e “Origens”, publicado em 2019, onde é co-autora, entre outros escritores: Alexandre da Castro Gomes, André Kondo, Luis Eduardo Matta, Sonia Rosa e Fábio Maciel, lançado recentemente.

Eliane busca sua origem potiguara

Escritora, poeta, ativista, professora, contadora de histórias e empreendedora social de origem étinica potiguara, do Nordeste do Brasil, Eliane é fundadora do GRUMIN (Grupo Mulher Educação Indígena). Desde o início da década de 80, Eliane desenvolveu diversas formas de trabalho contra a discriminação racial e de gênero. Em 1989, publicou a cartilha “A terra é mãe do índio”, com ilustrações do desenhista Ykenga. Em suas andanças pelo país e pelo mundo, Eliane encontrou seus “parentes”, como os indígenas se reconhecem, participou de encontros nacionais e internacionais, proferiu palestras e principalmente atuou como uma das formuladoras da “Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas”, proclamada pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 2007.

AVÓ CURANDEIRA

Neta de uma avó indígena, potiguara, analfabeta, que fugiu da violência na Paraíba para o Rio de Janeiro, após seu marido ter desaparecido em circunstâncias trágicas, Eliane foi criada entre a mãe e tias, todas proletárias, que sonhavam em formar a menina como professora, a primeira da família. E Eliane lia muito na escola, chegando até a ganhar um concurso literário, mas o prêmio não chegou a subir a ladeira onde morava, em Cavancante, gerando sua primeira grande frustação. A escola era longe. Para ir à pé, até a escola em Cascadura, caminhava 90 minutos, fizesse sol ou fizesse chuva!

O livro infantil com uma envolvente simbologia da noite

Através dos relatos da avó Lourdes, que também era curandeira, conheceu a cultura indígena, as lendas e suas origens. Aprendeu o respeito aos anciãos e toda sabedoria que brotava espontaneamente na fala rústica de sua avó. Ao se tornar professora, procurou aprofundar ainda mais o conhecimento sobre a sua origem indígena, sobre a terra de sua mãe, tias e avó. Conheceu a terra dos potiguara, na Baía da Traição, na Paraíba, onde esteve diversas vezes, aprofundando seu conhecimento ancestral. Ano passado, o reconhecimento pela sua trajetória entre os potiguara veio através do cacique que colocou simbolicamente em sua cabeça um cocar, revelando o reconhecimento da comunidade pelo seu trabalho.

Mãe de três filhos, Moína, Tajira e Poti, Eliane tem encontrado em Saquarema um pouco da paz que necessita. Após inúmeras viagens pelos países e continentes, visitando aldeias das mais diversas etnias, na América do Sul e do Norte, conhecendo a resistência histórica e profunda dos indígenas em todo o planeta, Eliane tem se encontrado na fé espiritualista e na Yoga, quando tem tempo, em sintonia com a energia dos astros, as fases da lua e em contato direto com a natureza. Conhecedora das ervas e da mata, vem se dedicando a um jardinzinho, na entrada da casa, enquanto pensa em, talvez, fazer uma horta no quintal. Por enquanto, vive em quarentena, como todos na rua e no bairro, esperando que dias melhores cheguem logo. Mas enquanto isto não acontece, lança mão da tecnologia, para se comunicar pelo whatsapp, pelo facebook, instagram e participando de “lives”, vivendo intensamente o presente, mas antenada com o futuro.

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