Beatriz Dutra: Cultura é Notícia Cidade Cultura

Saudosas Lembranças

Cultura é Notícia - Beatriz Dutra

Durante grande parte da minha vida tive animais de estimação. Primeiro, cachorros: vira-latas ou de raça, eles alegraram meus dias e foram excelentes companhias. Na infância, “Defesa”, uma vira-lata preta e branca, sempre estava presente nas brincadeiras com meus irmãos; “Barra Limpa”, um policial de grande porte, tomava conta da nossa casa e do imenso quintal. Ele era o “rei do pedaço” e ninguém se atrevia a lá entrar sem a sua permissão. Um dia, um policial quis pular o nosso muro, em busca de possível ladrão na vizinhança, e o “Barra Limpa” não titubeou e …”nhec”… naquelas mãos estranhas, prestes a invadir o seu território…Não preciso dizer que o ladrão escapou… Lembranças tantas, lembranças quantas!… Saudade do “Demian”, um pequinês que me adorava. Lembro que ele ficava chorando e ganindo, do lado de dentro do portão, ao ouvir a voz do meu namorado, do lado de fora… Tempos de namoro no portão…
Já na maturidade, passava eu pela calçada de uma “Pet Shop”, quando uma patinha felina, veludosa, pra fora da gaiola, me chamou. Aquele gesto surpreendente despertou a minha atenção. Aproximei-me. Era um gato siamês lindo, que fixou em mim sedutor e definitivo olhar. Logo percebi que tinha sido escolhida para ser sua dona. Não resisti e levei-o para casa. Mas cães são cães e gatos são gatos! Os cães, via de regra, são fiéis, obedientes, companheiros, amigos; os gatos silenciosos, discretos, sutis, insubmissos. Como eu, ele adorava poesia, boa música e serenidade. De manhãzinha, bastava eu me dirigir para o escritório, com música suave tocando, que lá vinha ele, de mansinho, para habilmente pular para cima da escrivaninha e ali permanecer e dormir um sonho de absoluta entrega e confiança, fazendo-me companhia. Ele me amou, sim, mas à sua maneira. Um amor dissimulado, sem querer dar demonstração do seu sentimento. Entrava e saía com liberdade, pelas janelas da casa, para as árvores e os telhados vizinhos. Ia e vinha. Saía e sempre voltava porque seu foco, sua referência, sempre estavam em mim. Apesar disso, um dia sumiu. Procurei meu “Lord Byron” por toda parte, mas em vão. Entendíamo-nos com o olhar, mas confesso nunca ter entendido seu misterioso desaparecimento. Saudade de você, meu “Byron”… Volta, meu gato, volta!…

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