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A pré-história de Saquarema preservada na Praça do Sambaqui da Beirada

Etapa das escavações no Sambaqui da Beirada, em 1987 (fotos: Willian Borba)
Etapa das escavações no Sambaqui da Beirada, em 1987 (fotos: Willian Borba)

Por Filomena Crancio

O Município de Saquarema não se destaca apenas por sua beleza e história, mas também por sua pré-história, contada pelos seus sambaquis, objetos de estudos da Arqueologia Pré-Histórica Brasileira, que estuda o período anterior a 1500 anos. O primeiro grupo humano que chegou à região onde hoje se localiza o município de Saquarema se instalou onde atualmente está erguida a Praça do Sambaqui da Beirada, em Barra Nova, numa faixa litorânea entre a lagoa e o mar, com paisagem de restinga.

Vistoria no Sambaqui  de Manitiba
Vistoria no Sambaqui
de Manitiba

Sítio arqueológico é um local onde são encontradas evidências de culturas passadas. O sítio arqueológico de ocupação litorânea, característico da região de Saquarema, é o sambaqui. Os sambaquis são bens nacionais, protegidos pela Lei Federal 3924 (26 de julho de 1961). Sambaquis são antigos locais de moradia temporária de comunidades pré-históricas, cuja subsistência era baseada na coleta animal e vegetal, pesca, caça e onde exerciam as atividades domésticas, artesanais e cerimoniais. Seus habitantes viviam organizados em pequenos grupos familiares.

Patrimônio local, estadual e nacional

Os sambaquis têm a forma de colinas que foram formadas pela ação humana e não por forças da natureza e é formado por camadas arqueológicas superpostas que representam sucessivas ocupações humanas. As camadas depositadas primeiro são as mais antigas; as camadas superiores são as mais recentes. Os habitantes dos sambaquis sepultavam seus mortos segundo rituais peculiares, no próprio local de moradia. Porém, sambaqui não é um cemitério e muito menos de índios, que chegaram aqui muito depois dos sambaquianos.

A arqueóloga e professora Lina Kneip, que foi a grande especialista do Museu Nacional/UFRJ no estudo dos sambaquis, apresentou no período de 1975 a 1978 às autoridades municipais de Saquarema projeto sugerindo a criação de uma “Reserva Arqueológica e Ecológica de Barra Nova”. Na época, foi aprovado apenas a criação de uma praça municipal, que hoje é a Praça do Sambaqui da Beirada. Datado de 4520 anos AP (Antes do Presente), o sambaqui da Beirada foi pesquisado no decorrer de 1987 por uma equipe, sob a coordenação da professora Lina. Protegido pela Praça do Sambaqui da Beirada, inaugurada em 31 de maio de 1997, o mais antigo sambaqui de Saquarema ganhou a primeira exposição arqueológica ao ar livre de um sambaqui no Brasil.

Na Praça do Sambaqui da Beirada encontra-se também preservada densa vegetação de restinga, representada pela disposição em mosaico, pela composição florística e espécies de valor medicinal e alimentar. Aberta à visitação pública, localiza-se na confluência da rua do Sambaqui da Beirada com a rua Arqueológa Lina Kneip, próximo à Avenida Litorânea.

Ao lado do Sambaqui da Beirada, existe também um outro sambaqui, o da Pontinha, localizado no loteamento Jardim Barra Nova. Datado de 1790 anos AP, é o único sambaqui do Brasil que apresenta hábitos funerários de cremação por toda sequência arqueológica. Seus artesãos eram hábeis na arte de lascar o quartzo, produzindo artefatos lascados bem elaborados e em grande quantidade. Apesar de estarem próximos geograficamente, eles não são um mesmo sambaqui. Além das variações culturais significativas, existem as cronológicas, pois o sambaqui da Beirada é o mais antigo e o sambaqui da Pontinha o mais recente em Saquarema.

A praça do Sambaqui da Beirada mantém uma exposição  a céu aberto, única no Brasil
A praça do Sambaqui da Beirada mantém uma exposição
a céu aberto, única no Brasil

O sambaqui de Manitiba I, o maior sambaqui já pesquisado em Saquarema, apresentou 7 camadas de ocupação, datando a camada mais antiga em 4270 anos AP e a mais recente 3810 anos AP. Há ainda o sambaqui de Jaconé, apresentando-se coberto por densa vegetação de restinga, no interior de um parque. Ele foi datado em 3760 anos AP, em sua base, e em 3350 anos AP, em sua superfície. É importante citar também o sambaqui de Saquarema, já destruído, que localizava-se no centro urbano da cidade, na Vila. Pesquisado em 1993, revelou a ocorrência de ossos humanos trabalhados em sepultamentos secundários, caracterizando um cerimonial funerário não identificado em sambaquis brasileiros.

A principal razão para a proteção dos sambaquis de Saquarema é em virtude de seu valor intrínseco como fonte de conhecimento sobre a cultura do homem pré-histórico brasileiro. Os graves danos causados aos sambaquis pela retirada de terra do solo arqueológico são irreversíveis. Os sambaquis ajudam a construir a identidade de Saquarema, fazendo parte do patrimônio local e devem ser protegidos por órgãos municipais e pela população deste aconchegante município.

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