Rapidinha no barranco
Quando o amigo apresentou Gilda, pretensa candidata a dar uma rapidinha na areia, Marcelo gritou apavorado: “Volta pro mar, oferenda de bode de encruzilhada. Chuta que essa pô… é despacho”. Ofendida a mulher aloprou, desandou um faniquito. O espetáculo de baixarias reuniu um montão de gente na praça, umas para atiçar a briga e outras para tomar partido na desavença, que já contava com a participação de parentes de ambas as partes. Quando a irmã de Gildinha chegou e foi chamada de “maminha de cachecol”, por ter as tetas tão pelancudas que dava pra enrolar no pescoço. O marido da maminhuda resolveu empombar, gritar uma montoeira de palavrões e desafiar a plateia oponente para se debulhar na pancada, que efetivamente começou quando alguém gritou o apelido do brigão: “bilau de bala-puxa”.
Com a chegada do pai de Gilda, que tomou uma bordoada no pé da orelha, alguém resolveu acabar com a briga atirando a cabeça acesa de um foguetão sem a flecha bem no meio do furdúncio. Foram três estrondos, gente queimada, ardida e sapecada, tudo porque Marcelo se negou a dar umazinha no barranco da praia.
Perseguida escaldada
Folgada e espaçosa, Federleia chegou na festa julhina arribando a saia pra mostrar o rabo. Para fazer charminho olhava para os volumes das braguilhas com olhar de muriçoca do brejo e lambia os lábios secos de tesão recolhido. A calcinha, que cansou de mostrar enquanto rodopiava, era tão vagabunda quanto tenebrosa. Passou a festa toda assanhada se oferecendo pros casados e para os solteiros, dando chance pra quem quisesse carregar pro mato.
Lá pras tantas, tanto biritou, rodou que ficou tonta e caiu no colo de João do Pau Seco, cuja mulher se aproximava da cena carregando duas cumbucas de quentão fervendo. As outras mulheres, que já estavam a fim de ralar a fogosa na pancada, deram o maior apoio, mas a vítima, com a cara e a perseguida queimadas, aos gritos se esvaía. As queimaduras de primeiro e segundo graus inflamaram e Federleia continua hospitalizada. O futuro conserto da cara só será possível com cirurgia plástica. A outra parte ofendida, só com reposição total, mas como ainda não inventaram transplante de perereca, vai ficar desinbeiçada, deformada e imprópria para o uso.
Ferro na buzanfa
Após a lua de mel, a noivinha voltou para casa feliz e saltitante por ter durante uma semana desfrutado de uma dúzia de seções diárias de nheco-nheco de alto impacto. Como se fosse o rei do vuco-vuco e se sentindo o galo campeão das olimpíadas no poleiro, Romero retornou ao trabalho onde relatou para os mais íntimos o seu feito heróico e triunfal. Um dos amigos contou o segredo pra esposa que, por sua vez, contou pra amiga e a coisa se espalhou que nem praga braba. Dias depois, quando a discussão entre os “amigos íntimos”, alguém disse que Romero ficou tão macho após o casamento que fez questão de passar a lua-de-mel na Pousada do Rego Quente, porque as piscinas de água quase fervendo e acrescentou: “em casa esse babaca pra ficar com excitação tem que ligar o ferro de passar roupa e encostar na bunda”.
Capoeirista ela ensaiou um gingado baiano, mas quando preparou o golpe mortal levou uma pancada no olho. Caolha, tonta e desequilibrada, saiu catando graveto de marcha ré e esparramou bem em cima da perna de uma cadeira quebrada. Informações não confirmadas relatam que o estrago foi tão grande que teve até de tomar uma saraivada de pontos por baixo. Na delegacia, quando viram que a coisa ficou feia, resolveram retirar as queixas e pagar os prejuízos do bar, mas Romero quer saber quem foi que botou o apelido nele de “furingo na chapa”.
Savelha com meleca
Abelardo pegou uma savelha de doze quilos. Escamou, tirou as tripas, mergulhou o peixe no sal grosso e arreganhou no telhado para secar ao sol e se transformar em bacalhau. Para comer a farta iguaria até um caminhão pau de arara chegou de longe trazendo gente da família. Vieram parentes do Buraco da Coruja, as tias e a sobrinhada do Valão do Regamé, amigos e conhecidos do Alagado do Pau Sem Casca e os colegas e suas esposas do Brejo do Ralarego.
A primeira confusão começou durante a distribuição dos pratos de papel que, já usados, tinham até meleca grudada na beirola. Os copos de plástico, com catinga de mau hálito, também serviram para engrossar o sururu que favelou o ambiente quando serviram o tal do bacalhau de savelha, que é o peixe mais espinhoso que existe no mar. Além disso, como o falso bacalhau foi seco na telha, um lado ficou com gosto de cocô de andorinha e o outro de merda dos gatos que costumam fazer no telhado. Se sentindo ofendido Zinho jogou dois montões de titica mole de vaca dentro da panela, o que resultou em palavrões generalizados, na distribuição de pauladas e porradas que foram concluídas com saraivadas de tiros. A bacalhoada acabou na delegacia com um monte de gente com os cornos quebrados.
O gato e a perereca
Derrotada, Pazeca saiu às escondidas carregando um pacote com fotos e bilhetes ameaçadores. Ao se pirulitar de casa partiu direto pra delegacia, onde resolveu dar queixa do esposo maníaco sexual e trambiqueiro. Encalacrado de dívidas tentou prostituir a mulher e virar macho de programa para saldar empréstimos feitos a pessoas do ramo que ameaçavam lhe navalhar a cara por falta de pagamento. Mutreteiro, cantou a mulher de um empresário, comeu, filmou, fotografou, gravou tudo às escondidas e conseguiu tirar dela uma grana, que teve de roubar do marido para manter a transação em segredo. No pacote entregue a polícia dezenas de fotografias escandalizantes faziam parte da coleção extorsiva, inclusive uma onde o autor aparece tocando violão com o bilau, enquanto a vítima tinha a perereca lambida por um enorme gato siamês peludo e arrepiado.
O gato e a dona da coisa lambida desapareceram sem deixar rastro. Dias depois Juscelinho foi esmolambado e hospitalizado com a cara em fatias toda lanhada com navalhadas. No peito, um ferimento no formato da letra Z, marca registrada de um assassino de aluguel conhecido como Zorro.

Casos publicados na edição de agosto/2012