Plantão de Polícia (AG Marinho)

Futucado por baixo e outros casos

Plantão de Polícia - AG Marinho

Futucado por baixo

Com o consentimento dos familiares, Felipão, 74 anos, ex-lutador de luta-livre, embarcou no papo e foi sedado no consultório médico, porque a família achava que, sob qualquer pretexto ou hipótese, não permitiria o toque retal para o exame de próstata, que obrigatoriamente precisava ser feito. Ao despertar sem as calças, de bunda pra cima e se sentindo ligeiramente ardido por baixo, ficou desconfiado e, ao passar o dedo no local futucado e sentir que o rego tinha sido lubrificado, pulou da maca, aplicou um direto de esquerda na cara do médico e com uma cutelada nocauteou a enfermeira.

Os dois filhos e a esposa, que aguardavam na sala de espera, invadiram o consultório e foram recebidos com uma sessão de porradas com direito a fraturas e hematomas. A esposa de Felipão, toda desconjuntada, está imobilizada e torta, com um tampão de pirata no olho direito. A dedada, segundo médicos, desencadeou um surto psiquiátrico, obrigando o agressor a ser internado numa clínica especializada.

Segundo Felipão, depois que soube da possibilidade de ser portador de câncer de próstata, até se submeteria ao exame sem precisar de tais artifícios, e acrescentou: “O que não pude concordar foi ter sido enganado, dopado, desvirginado, violado e ter minhas tripas futucadas com dedadas, como se a minha bunda fosse uma batedeira de bolo, usada por um cafetão barbudo, acompanhado por uma velha estrupadeira e demente, fantasiada de fantasma gasparzinho, tudo com o consentimento da minha própria família. Aí me despiroquei e pulverizei todo mundo na porrada”.

Espermatozóide zarolho

Com a prisão prestes a ser decretada, Demétrio, acusado pela esposa de ser portador de uma tropa de espermatozóides capengas, esperneou perante as autoridades dizendo que preferia ficar preso e ser comido pelos outros detentos do que pagar pensão alimentícia para quatro menores que não eram seus filhos.

Cindinha, a mãe saracoteira, especialista em fazer hora extra nos motéis com os machos do bairro e das adjacências, se disse admirada pela recente reação do marido, cujo pinto, segundo ela, faleceu há mais de doze anos e só agora se deu conta de que as crianças – de quatro, seis e sete anos – não são seus filhos. Mas “se registrou tem que pagar”, gritou arribando a saia e berrando dentro da delegacia.

Em casa, o clima entre o casal era de ofensas mútuas e acusações de safadezas generalizadas. Na suposta tentativa de acabar com os xingamentos, Demétrio deu duas foiçadas na cara de Cidinha lascando a boca da vítima de orelha a orelha.

Foram duas horas e meia de suturas e permanente paralisia do lado esquerdo do rosto. Em casa, toda enfaixada e remendada, articulando as palavras com muita dificuldade, a primeira frase dita pela vítima ao ver o marido foi: “fai fomar no folholho do glu, zeu couno da pôla lala i du pilhu palarílico“. Sem dó nem piedade, Demétrio deu outra porrada nos cornos de Cidinha arrebentando os pontos e causando paralisia no outro lado da cara. Ele foi preso. Ela ficou fanha e gasguita para toda eternidade.

Flagrante no terreiro

Na Manguaça, perto do Beco do Fogareiro, mora Geruncia, que faz sacolé de polpa de jamelão com caldo de cana, pra vender na porta do centro de Marcela Gamela, nos dias de sessão de terreiro e nas tardes quentes de descarregos feitos com banhos de ervas da restinga. Se achando no direito de participar no lucro da venda, Gamela decidiu cobrar pedágio para o estacionamento da carrocinha do sorvete. Alegando que a rua é pública, Geruncia resolveu não pagar, e ao ouvir um montão de desaforos, invadiu o centro durante o banho de descarrego e flagrou um bando de homens e mulheres, todos pelados se roçando, de molho dentro de uma espécie de barrica, enquanto uma irmã possuída cantava pontos de sacanagem.

A mandioca do guerreiro

Na casa de Bethania, conhecida como Bertalha, todo mundo solta pum o dia inteiro. Na hora da comida os gases se misturam com palavras obscenas, xingamentos e ofensas variadas. A disputa pelo maior pedaço de carne, ou pelo prato mais cheio, sempre foi motivo de brigas na família e, entre um peido e outro, voava um prato ou uma panela na cara de alguém. Mal educados, quizumbeiros, porém devotos, no dia do Santo Guerreiro promoveram uma festa no bairro, soltaram fogos, desfilaram procissão com velas acesas e arrecadaram donativos de alimentos, que ninguém sabe pra quem. Entre as oferendas feitas ao milagroso, estavam seis caixas de aipim que, como por encanto, sumiram sem deixar rastro. O pega-pra-capar começou quando o locutor, dizendo palavrões, anunciou a oferta e o desaparecimento da “mandioca do Santo”, rogando pragas e castigos cancerosos pro ladrão, dando início a porradaria que destruiu a festa. No centro da confusão, acusadores sapecaram fogo na barraca de aipim frito com carne de sol. O bujão de gás explodiu e arrancou o traseiro do cavalo da imagem. A cabeça do dragão foi parar na panela de angu e a brilhosa lança de metal voou e deu uma porrada na testa de Alzira quituteira, que teve uma crise epilética e caiu se babando na sarjeta. A polícia chegou e a festa terminou com o xadrez da delegacia atolado de gente.

A vingança de babacão

Uma semana após o casamento, Domíciano já era o corno mais chifrudo do bairro onde morava. A residência, rodeada de cerca viva, vivia apinhada de machos abaixados entre as plantas pra ver a bunda e tudo o mais que Kizinha, 22 anos, gostava de mostrar andando pelada no quintal. Era só o marido partir pro trabalho que ela escovava a periquita pra passear no pomar. A sacanagem no buraco da cerca se tornou mais frequente depois que a galera descobriu que o cachorro “leon”, que era uma fera e atacava todo mundo, gostava de chocolate e que quando comia o doce ficava calmo e se babando que nem velho brocha. Empanturrado com bombom, passou a ser chamado de “babacão” pela rapaziada da cerca. A uma amiga Kizinha revelou o seu sonho de se tornar famosa. Que adotaria o apelido de Lady PP (Penélope Putanheira), a rainha do strip-tease.

Sem ter a oportunidade de mostrar a perereca para o grande público, Kizinha foi encontrada morta, sufocada no quintal do sítio, com uma corda de estender roupa enrolada no pescoço. O marido, que estava trabalhando em São Paulo, não está entre os suspeitos. A polícia desconfia de uma pessoa que na manhã do dia do crime procurou o posto de saúde com diversas mordidas de cachorro e que, possivelmente, não sabia que babacão gostava de chocolate, ou que o produto estava em falta no mercadinho da comunidade.

Arreganhada na rodoviária

Recusado pela amada, uma bela jovem bunduda e dançarina de banda funk, Klaucio foi acusado de ter injetado na internet um retrato da bailarina pelada, toda arreganhada, com a periquita comendo mariola no banheiro da rodoviária Novo Rio. O site bombou e milhares de acessos congestionaram o canal. A moça e a família despirocaram diante do fato. A vizinhança se dividiu em grupos pró e contra. Uns afirmavam que a única coisa desconhecida no site era a mariola, porque o resto já era de domínio público. Outros protestaram, mas não souberam dizer o que Samanta (nome artístico) estava fazendo aberta e arreganhada na rodoviária. O telefone da casa da família berrava noite e dia. Troteiros queriam saber detalhes sobre o cardápio preferido da faminta periquita. Choveram ofertas de pepinos, mandiocas e cenouras e até ração de vaca e de galinha foram sugeridas. Alguém perguntou se a periquita comia quebra-queixo, bebia garapa e roia rapadura.

Klaucio negou ser o responsável pelo site e sua divulgação, mas Amarildo, irmão de Samanta, não acreditou e evaporou o interneteiro na porrada. Novos suspeitos apareceram e, pressionado, Baqueta, baterista da banda, confessou o crime praticado por profundo amor não correspondido e incontáveis horas de masturbação. Indignado por ter sido injustamente acusado e espancado, Klaucio disse que vai processar Samanta e botar na internet uma foto de Amarildo pelado, de quatro na macega, sendo estuprado por um jumento relinchante e desdentado.

O Saquá 134 – Maio/2011

Casos publicados na edição de junho de 2011 do jornal O Saquá (edição 134)

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