Francisco Alves Neto: Crônica do Dia a Dia

Monteiro Lobato e os livros (parte 1)

Crônica do Dia a Dia - Antônio Francisco Alves Neto

Como membro da Academia Saquaremense de Letras, realizei palestra sobre a vida e obra de Monteiro Lobato, a convite da professora e amiga Lina Barcellos, acadêmica e membro da diretoria da ASL. O público era predominantemente de adolescentes (cerca de 70 deles), alunos que participam de eventos culturais dessa natureza para cumprir estágio em curso de formação de professores. Pude perceber ao primeiro contato que a grande maioria dos presentes conhecia Monteiro Lobato única e exclusivamente por causa do “Sítio do Pica-pau Amarelo”, fábula criada a partir da reunião de ideias e textos escritos a partir de 1920.

Em verdade, a maioria de nós também pensa que Monteiro Lobato está adstrito somente ao “Sítio”. Informei, então, aos meus ouvintes que José Bento Monteiro Lobato havia nascido em Taubaté-SP, em 18 de abril de 1882, e passou grande parte de sua infância/adolescência na fazenda onde nascera e dela retirou os personagens para compor o “Sítio”; “Pedrinho”, por exemplo, era um personagem que ele se identificava quando criança. Mas, a contribuição de Lobato para o Brasil – o que já seria extraordinário – não se limitou  ao “Sítio do Pica-pau Amarelo”. Antes de enveredar na literatura infanto-juvenil, escreveu contos especialmente sobre a vida dos caboclos do interior de São Paulo, tendo lançado em 1918 o livro “Urupês”, considerado a sua obra prima e  clássico da literatura brasileira.

Jeca Tatu foi personagem nesses contos, que servia para levar o recado contra a falta de perspectiva da população interiorana, que a levava a apatia e até mesmo a preguiça. Depois, o personagem foi redefinido e engajado em campanhas por saúde pública e saneamento básico, deixando claro que “o caipira não é assim”, mas “está assim, indolente, não pela sua natureza genética ou racial, mas sim pela falta de condições de higiene e saúde”. Visionário e muito a frente de seu tempo, Monteiro Lobato criou no Brasil, em 1918, a primeira editora. Nessa época os livros que circulavam no Brasil – em reduzido número – eram editados na Europa, especialmente em Lisboa e Paris. Com a possibilidade de editar seus próprios livros, verificou que poderia difundir a nossa cultura, passando a investir na literatura infanto-juvenil, afirmando: “Assim como é de cedo que se torce o pepino, também é trabalhando a criança que se consegue boa safra de adultos”.

Capinha O Saquá 114Artigo publicado na edição de novembro
de 2009 do jornal O Saquá (edição 114)

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